Viver no Uruguai - Parte 2: Trabalhar em Montevidéu

A continuação do post que tem mais visualizações e gera mais comentários e e-mails, tento responder a todos, mas muitas perguntas infelizmente não tenho condições de responder: as vezes porque não tenho o conhecimento necessário, outras vezes porque são de caráter pessoal e não tenho como mensurar.

Muitas dúvidas se repetem e giram basicamente em torno do custo de vida, oportunidades de trabalho, acesso a saúde e educação pública lá no paisito

Ainda fico surpresa, pensava que a maioria dos acessos viriam de turistas buscando informações para as férias e não de pessoas querendo mudar de país.

Observo que falta informação sobre o panorama sócio-econômico da região e há até uma certa ingenuidade. Não poucas vezes me perguntaram “tem desigualdade social aí?”, “dá para viver com o salário mínimo?”, ou afirmaram “os uruguaios são liberais”, “a vida é mais fácil e melhor aí”.

Com base em um estudo da ONU, o país apresenta os menores índices de desigualdade na região da América Latina e Caribe, mas isso não quer dizer necessariamente que está  próximo das condições políticas e sociais ideais. 

O Uruguay apesar de ter muitos aspectos culturais destacáveis, ainda é um "país latino em desenvolvimento" com todas as vantagens e desvantagens que essa definição questionável possa carregar. 

Acredito que a repercussão que o Pepe Mujica teve no Brasil fez as pessoas enxergarem o Uruguay sob a óptica do presidente, e que maravilhoso seria se a maioria das pessoas do mundo tivessem a lucidez e o desprendimento desse senhor para com a vida, mas não é assim que funciona. 

Nas palavras do próprio Mujica: "Yo no puedo convencer a los que están alrededor mío. Yo no les puedo imponer nada. ¿Por qué? Porque la presión de la sociedad en la que vivimos es más fuerte. Una revolución es una cultura. La gente dice que el Pepe tiene razón respecto al consumo, me aplauden, pero no me dan ni pelota”. 

Já me disseram em algumas respostas que eu estava tratando de desanimar uma pessoa com o sonho de buscar algo melhor e mudar de vida, já me disseram também que eu pintava o país como o paraíso: nem uma coisa nem outra, esse blog reflete minha visão - não o que é certo ou errado, outra pessoa vivendo aqui pode enxergar tudo de outra forma, e com o devido respeito podemos construir ótimas discussões nesse espaço. 

Paraíso não existe – ainda bem! – viver sem lamúrias pese certas dificuldades é minha opção, não dá para ficar postando todas as frustrações da minha vida aqui, né? Além de não me ajudar, seria no minimo pouco interessante para os demais! :P

Também não tenho porquê dizer o que cada um quer escutar, se chegam a pedir minha opinião, é natural que eu diga o que realmente penso. Não posso, por exemplo, concordar quando me dizem que Montevideo é um lugar barato para viver quando sei das contas que pagava rs. 

Para terminar esse ponto, bato na tecla de que toda mudança requer muita força de vontade, adaptar-se ao novo é mais complicado do que a gente costumar imaginar, e para tornar esse processo mais ameno é importante migrar com consciência da realidade, e afirmar isso não é questão de incentivar ou deixar de incentivar ninguém.

Voltando as dúvidas... talvez a pergunta mais recorrente seja sobre o custo de vida, é muito difícil avaliar o que seria razoável para cada pessoa, então recomendo que verifiquem os sites de mercados, alugueis, etc, para ter uma noção dos preços e tirar as próprias conclusões. 

É subjetivo definir quanto uma pessoa gastaria num mês, se avalio com base nas minhas necessidades chego a X, se avalio com base nas necessidades de outra pessoa chego a Y.

Imaginem se eu perguntasse "quanto é o aluguel aí na sua cidade?" ou "quanto se gasta com comida?", você teria como dizer exatamente um valor? Acredito que não. Em Montevideo não é diferente! 

O preço do aluguel vai depender do bairro, das comodidades e tamanho do imóvel, e ainda da sorte de quem está buscando.

Como exemplo dessa tal sorte que me refiro, tenho meu apartamento: todas as unidades nas mesmas condições (mesma planta, mesmos armários projetados, mesma vista) eram alugadas por 13 mil pesos. Se você chegasse no edifício e perguntasse ao porteiro ele te daria esse valor. 

Pois bem, conseguimos alugar por 11.500! Por que? Não saberia dizer, talvez porque fechamos o contrato em janeiro, época em que Montevideo fica quase às moscas e todo mundo só quer saber de curtir o verão na costa, ou capaz o dono estava desesperado precisando do dinheiro, ou era rico e não se importava... 

Me parece mais lógico cada um abrir a página do classificados e procurar opções que se encaixem no orçamento e gosto particular, e a partir disso tirar uma média. Se conseguir encontrar algo com um valor menor, será um plus.

E sobre trabalho, não soube precisar nem quando eu conseguiria um emprego, estava segura que conseguiria em 3 meses e no final não foi bem assim. A inserção laboral não é fácil, mas não é impossível, é preciso um bom CV, paciência e  de novo, sorte. 

Para citar alguns casos, já vi advogada com 10 anos de experiência e mestrado na UM (Universidad de Montevideo) trabalhando como professora de português por falta de opção na área de formação ou ainda uma psicóloga com pós-graduação em uma universidade conceituada no Brasil trabalhando em loja de shopping. Em contrapartida já vi casos de brasileiros empreendedores que conseguiram se manter no mercado uruguaio, depois de muito trabalho e investimentos, óbvio. 

Nesse ponto também acho mais lógico cada um buscar as ofertas da área em que atua, já disponibilizei alguns links de sites para busca. 

Eu não tenho como avaliar corretamente as oportunidades existentes para dentistas ou nutricionistas, por exemplo. O máximo que posso fazer é dar pitacos fundamentados em "achismo", já que minha área de trabalho é a jurídica e administrativa.

A exceção é a área de IT, não tenho formação nem trabalho nesse mercado, mas posso afirmar que há boas oportunidades. Meu namorado é engenheiro de sistemas e vejo as ofertas que chegam para ele, e na empresa que trabalhava a busca por profissionais no departamento de IT era constante e mobilizava até os outros departamentos.

Sobre salários o que posso dizer é que poucas vezes vi anúncios oferecendo grandes valores. A maioria dos cargos de gerência e direção não divulgam o salário, a informação quase sempre é "acorde a las responsabilidades". 

Um salário de 50 mil pesos é considerado uma excelente remuneração, e recordo que 50 mil pesos seria mais ou menos 5 mil reais. Dificilmente alguém receberá esse salário sem formação superior e especialização, inglês fluente e pelo menos 5 anos de experiência relevante.

Para trabalho a questão do inglês tem um peso mais forte do que no Brasil. Aqui as pessoas efetivamente sabem o idioma quando colocam essa informação no currículo e o recrutador avalia esse conhecimento (com prova, conversa ou solicitando certificados). 

Parece obvio comentar isso, mas quem realmente está pensando em se aventurar por terras charruas deve saber o idioma local ou estar disposto a estudá-lo.

Temos a ideia que espanhol é fácil, se compararmos com outros idiomas como o alemão, seguramente temos uma facilidade maior de compreensão com o espanhol, porém é essencial levar a língua a sério para ser levado a sério em oportunidades laborais. 

Já se imaginou defendendo um projeto em espanhol numa mesa de reunião com a gerência? Explicando sua experiência profissional numa entrevista? São situações que precisamos persuadir e sem o domínio da língua fica difícil.

Ah, e não se enganem com os comentários positivos dos uruguaios porque eles são muito queridos nesse sentido rs, você pode estar arrasando no portunhol que ainda assim alguém irá encher seu ego com um "você fala muito bem".  

Acontecia direto quando cheguei e tenho consciência que apesar de ter estudado (sim, fiz cursinho de espanhol), falava muita coisa errada. Ainda cometo erros, e tenho muito sotaque (baiana, fazer o que?), mas me esforço para melhorar a pronúncia e escrita.

Recebi um comentário (Oi Cristina!) que me incentivou a tocar novamente nesses assuntos. Não sei se tudo isso serviu para esclarecer algo ou continuou tudo muito vago, mas pelo menos tentei.

Por fim, queria que ficasse claro que a experiência no Uruguay vale muito a pena. Nos últimos 2 anos cresci muito vivendo no paisito e hoje posso dizer que me sinto uma charrua mais, mesmo morando agora do outro lado do mundo. 

Espero que cada um de vocês com planos de migrar, possa também crescer e viver com essa sensação de que valeu a pena... e que volte aqui um dia para contar essa experiência rs!

P.S. vou tentar atualizar os comentários atrasados do blog em breve! Ando sem tempo de respondê-los, sorry! 

Muita sorte! ;)


Brasileiros Uruguai

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Sucessos populares

Em tempos de mp3, iPod e tanta coisa para armazenar e escutar músicas, ainda sigo sintonizada nas rádios, adoro!

Em Montevidéu costumava ir ao trabalho escutando desde as notícias do dia a músicas de gosto altamente duvidoso.

Há uma estação conhecida por passar cumbias e toda sorte de música de plancha, ou em outras linhas, música de baixa qualidade mesmo. 

Difícil explicar aqui o que seria um plancha na linguagem montevideana, essa é uma expressão muitas vezes carregada de preconceito que serve para definir jovens - em grande maioria - de baixa renda que andam em grupos e tem um estilo próprio de falar, vestir, etc. 

Escutava essa rádio também, dava boas risadas e seguramente me ajudou a compreender melhor o idioma falado nas calles

O curioso - ou não - é que essas músicas que todo mundo se queixa de ter que escutar no ônibus e atribuir o infortúnio aos planchas (fone de ouvido pra que te quero, né?), toca praticamente em toda festinha e reunião de amigos: e todo mundo baila feliz. 

É meus caros, já dancei e cantei com as mãozinhas pra cima e tudo, temas como La Pregunta e Como Me Gusta La Noche. Para quem já dançou muito É o Tchan quando criança, não é nenhum constrangimento revelar isso, certo? :P

Além dos sucessos populares das rádios, as redes sociais promovem fenômenos com uma força que ainda me surpreende! 

Nesse verão uma banda argentina virou o sucesso-chiclete e passageiro do momento, de repente vi meus amigos no facebook postarem vídeos da banda, que nada mais era que um grupo de cumbia ou música de plancha numa roupagem burguesinha. 

Escutei Agapornis na rua, na chuva, na fazenda em todas as festas da estação, na festa da empresa, no churrasco dos amigos...

E agora vejo novamente esse processo surgindo nas redes com uma banda que chamou bastante minha atenção, dessa vez não pela voz fanha da cantora ou pela batida constante e irritante da canção. 

Ouvi uma música e "... perae, tem um pandeiro aí! Marcação também! É um cavaquinho? Não, ukelele!". Pronto, foi suficiente para curtir Mala Tuya por toda a temporada que dure esse sucesso rs. 


                                "Hacemos pagode? No sabemos; hacemos lo que nos sale, y nos gusta!"

Me amarro num boteco, uma das coisas que mais sentia falta em Montevidéu era sentar num barzinho pé sujo para jogar conversa fora e tomar uma cerveja gelada acompanhada de algum petisco (coxinha, pastel ou bolinho de bacalhau rs), outra coisa era  sair de casa no começo da noite e sentar num barzinho qualquer tocando um sambinha ao vivo. 

Sambinha de raiz ao vivo ainda não encontrei, e quem já visitou a cidade sabe que as festas começam a partir de 2h da manhã, nunca me acostumei, saia para o bar às 21h e era sempre a estranha!

Encontrar um grupo uruguaio que usa esses instrumentos já me enche de alegria, a música não precisa nem ser fantástica, só escutar esse ziriguidum tá valendo. 

Abraço! ;)


Update: já encontrei sambinha em Montevidéu, gente! Não tem o clima de boteco, é bem verdade, mas tem samba! E Mala Tuya ainda resiste nas paradas, não com o mesmo furor dos verões passados, mas seguem aqui rumo a 2015...


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Coleta seletiva em Montevidéu

Separar o lixo que produzimos em casa é muito simples, questão de hábito apenas. 

No inicio a gente se atrapalha um pouco, mas depois passa a ser parte da rotina e a gente começa a separar sem nem perceber. Hoje em dia me atrapalho mesmo quando vou na casa de outras pessoas e fico procurando onde jogar cada coisa e não encontro rs!

Comecei a separar de verdade depois que fui morar em Montevideo, confesso que inicialmente mais por um esforço do meu namorado que já separava o lixo doméstico há algum tempo do que por uma postura minha, tinha aquela ideia de "é bacana, não custa nada, o meio ambiente agradece, mas amanhã faço isso". E não fazia, ou então fazia e no dia seguinte já esquecia.

Nossa rotina é a seguinte: deixamos todos os materiais limpos, por exemplo se abrimos uma lata de atum para o almoço, na hora de lavar os pratos lavamos tudo (a lata e os pratos, assim não fica resíduos nem cheiros) e vamos juntando até chegar uma quantidade razoável para levar nos postos de coleta. 

Normalmente a cada 15 dias levavamos aos postos  de coleta como esses das fotos:




Há vários em Montevideo, só prestar um pouco de atenção nas ruas que você encontrará algum. Lá no bairro tinhamos um de alumínio na nossa esquina e outro de plásticos e vidros duas quadras depois.





A prefeitura disponibiliza esse mapa com os pontos sinalizados, facilita muito a busca.

Muitos edifícios também oferecem a coleta seletiva, no nosso prédio havia apenas de plásticos, caso onde você more não tenha, acho válido propor aos vizinhos. Não é  difícil encontrar cooperativas que se encarreguem de ir buscar esse material.

Outro hábito bacana de incluir no dia-a-dia é usar sacolas recicláveis, retornáveis, ecobags ou como queiram chamar, são baratinhas e agora já tem até variedades de modelos e cores rs. Deixavamos sempre uma no carro para ter disponível quando surgisse aquela ida de última hora ao supermercado.

Não quero bancar a ecochata com esse post rs, mas é aquela coisa do "cada um fazendo sua parte" ou "contribuindo com seu grão de areia" que a gente melhora esse mundão, pode parecer piegas, mas é fácil assim, com coisinhas simples assim!

Abraço! ;)

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Onde Comer: Bar Lobo em Montevidéu

Sabem aqueles dias de calor que pedem uma cerveja gelada? Era bem um desses dias quando conhecemos o Bar Lobo!

Não queria ir a um restaurante ou pizzaria, queria algo mais simples mesmo, sentar num barzinho e tomar minha cerveja numa mesa na calçada da rua.

É difícil pensar em outro lugar para beber e comer algum petisco que não seja o pub Burlesque - adoro!, mas nesse dia queria um lugar novo.

Olhando a revistinha do clube de descontos do jornal El Pais que tem ótimos restaurantes e hotéis associados, encontrei o Bar Lobo. Pronto, tudo em harmonia: calor, cerveja e 20% de desconto na conta rs!

Chegando lá vi que o lugar estava mais para restaurante do que bar, mas pelo menos tinha a tal mesa na calçada que eu queria e resolvemos ficar.

No menu não há muitas opções de entradas ou petiscos, na verdade o forte do bar-restaurante é a tradicional parrilla uruguaia, tanto para assar carnes como para peixes - que não é tão fácil de encontrar em Montevideo.

Apesar da boa pinta dos pratos dos vizinhos (sim, olho o prato alheio rs), pedimos pizza, essa também feita a la parrilla e ficamos satisfeitos: massa fina e crocante, e o recheio de queijo de cabra e vegetais que foge dos sabores clássicos das pizzas.

A seleção musical me surpreendeu, muito jazz e blues na caixa! As mesas estavam iluminadas a luz de velas, aí a cerveja acabou dando espaço a um vinho rosado e frio, aproveitando a deixa romântica rs.

Quem quiser se programar para conhecer, alguns dias da semana tem espetáculos ao vivo na cava do bar-restaurante, eles divulgam os eventos na página do facebook.

E assim os planos iniciais mudaram, no final passei uma noite comum de verão sentada na calçada de Punta Carretas comendo pizza e tomando vinho a luz de velas, tocando Ray Charles de fundo, com a melhor companhia! 

Preciso dizer mais? ;)


Endereço: 

Coronel Mora 485 - esquina Montero, Punta Carretas (nessa área há ainda outras boas opções de bares e restaurantes, recomendo darem uma passadinha por aí). Os pratos custam entre 280 e 380 pesos. 

Abraço!
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