Já tinha comentado que estava com esse projeto de apresentar as histórias de outros brasileiros que vivem no Uruguai para vocês conhecerem outros pontos de vista sobre esse assunto que sempre rende papo aqui no blog: a vida no Uruguai .
Fiz um roteirinho com algumas perguntas envolvendo temas como custo de vida, trabalho, adaptação à cultura local, etc.
Estava um pouco insegura de fazer uma inquisição um questionário com perguntas por vezes tão pessoais e expor na internet, mas acabou sendo tudo bem tranquilo, nossa 'entrevistada' colaborou bastante e foi até engraçado tomar nota de uma história que já conheço de trás pra frente.
A Sabrina foi a primeira amiga que tive em Montevideo, nos conhecemos numa entrevista de trabalho e a princípio ela não foi muito com a minha cara haha, mas entre uma ligação e outra no call center, uma patada aqui e acolá de algum cliente, construímos uma amizade que tenho muito orgulho.
Sem mais delongas, segue o resultado dessa conversa de comadres! ;)
BVU - Como surgiu a ideia de morar no Uruguay?
Bem, como mais de 90% das minhas amigas brasileiras, eu também vim pelo famoso “amor” rs. Visitei o país em 2009 em um congresso de extensão universitária e me apaixonei pela cidade, em seguida conheci meu namorado. Juntaram as duas coisas e não pensei duas vezes.
BVU - Como organizou a mudança?
Eu vim com 1.800 reais na intenção de estudar e trabalhar (fevereiro de 2010). Trouxe o básico e tive que ir comprando tudo aos poucos aqui. As roupas couberam dentro de uma mala grande, venho de uma cidade que faz muito calor, então não tinha roupas de frio.
Inicialmente fui morar numa residência estudantil, já tinha pesquisado os preços de aluguel e vi que com o que eu tinha não dava para nada.
BVU - Como foi conseguir um lugar para morar?
Pesquisei por internet, consegui uma residência estudantil no bairro La Aguada.
BVU - O idioma foi uma barreira em algum momento?
Claro que sim, nunca tinha estudado espanhol. Por sorte, meu namorado sabia falar português e me ajudava a entender. Não achava tão difícil para sair e comprar, porque de uma forma ou de outra as pessoas acabavam me entendendo, já para trabalhar em algo que não fosse call center em português, aí sim pesava bastante.
BVU - Com o que trabalhava no Brasil e com o que trabalha atualmente?
No Brasil sou pedagoga e estava trabalhando na prefeitura municipal de João Pessoa, no departamento de coordenação de patrimônio cultural.
Antes dessa experiência, trabalhei dois anos em projetos de extensão em presídios, com menores infratores e numa biblioteca digital para alunos do ProJovem.
Atualmente trabalho na Universia Brasil como assistente de conteúdos e redatora de Portugal. Também tenho um projeto pessoal de uma revista chamada Padres (Pais) dirigida ao público familiar aqui em Montevideo.
BVU - Foi difícil conseguir trabalho? O que você acha do mercado uruguaio em relação a estrangeiros?
Hoje em dia, consigo fazer o que eu gosto e que de certa maneira tem a ver com minha profissão, mas até chegar nessa oportunidade, o caminho foi bem complicado.
Não tenho o diploma revalidado e isso dificulta ainda mais nos processos seletivos para trabalhar como educadora. Outro ponto é o idioma, porque justo para trabalhar como educadora, meu espanhol deveria ser “nativo”... o que não é rs!
Acho que não podemos concorrer com as vagas dos “uruguaios”, digo isso porque se existem vagas especificas para um cargo administrativo, de recursos humanos, sei lá, qualquer coisa, eles vão dar preferência para os uruguaios. Nós, brasileiros, temos mais possibilidades de crescer nas empresas que trabalham para o Brasil, bem mais limitado.
De maneira geral, não achei difícil conseguir trabalho no Uruguai, difícil é conseguir o trabalho que você quer e na área que estudou.
BVU - Te parece um lugar barato para viver?
De maneira nenhuma. Uma coisa que eu sempre digo é que no Brasil existe produtos de marca caros, mas você sempre tem opção de comprar um mais barato. Aqui não, ou é caro ou é caro, quase não existe meio termo.
Os aluguéis também são caros. O que acho mais acessível é o preço da roupa e dos táxis!
BVU - Qual item pesa mais no orçamento doméstico? Ex.: educação, moradia, transporte, alimentação, vestuário, etc.
Acho escola para crianças o item mais caro.
No Brasil temos como colocar nossos filhos em escolas muito boas ou escolas menores, de bairro, mas ainda de qualidade. Temos mais escolhas, aqui não.
As escolas estão muito caras! Desde as mais simples! Vi escolas que pedem 10 mil pesos tempo completo, mas como pago 10 mil se ganho 15 mil? Ah, só para constar, tenho duas filhas, assim que seriam 20 mil... não daria se não tivesse conseguido uma bolsa parcial! O aluguel e a comida também pesa muito.
BVU - Como foi a adaptação das meninas na escola?
Minhas filhas quando chegaram não sabiam absolutamente nada de espanhol. A pequena tinha 3 anos e a maior 6 anos.
Uma das minhas preocupações era que elas não pudessem acompanhar as outras crianças na escola, mas deu tudo certo, crianças pegam super rápido tudo... eu demorei tanto e elas com 3 meses já estavam tagarelando em espanhol!
Elas adoram viver aqui, foi tudo novo, saímos de uma cidade que fazia 30 graus o ano inteiro para um país que faz frio de verdade, no começo elas adoravam colocar as roupinhas de inverno e participar da cultura diferente: a pequena até a jura da bandeira já fez, como uma uruguaia mais na escola, e no halloween elas se fantasiam e vão com as outras crianças de porta em porta pedir doces, enfim, elas se adaptaram muito bem e rápido.
BVU - Qual foi a maior dificuldade de adaptação?
Acho que ter que acostumar com a velocidade mínima dos ônibus, isso até hoje me deixa bastante irritada rsrs.
BVU - Há alguma informação que se você soubesse antes de ir, teria facilitado ou acelerado seu processo de adaptação?
Na minha opinião, a informação mais útil seria saber como proceder com a certidão de nascimento para tirar a residência fixa. É muita enrolação de documentos que vai e vem. Se tivesse essa informação antes, ficaria muito mais fácil.
Até hoje tenho problemas porque morava em João Pessoa, mas nasci em São Paulo e não tenho quem faça lá o tramite que eles pedem. Vou ver se faço ano que vem, pelo menos dou um pulinho em São Paulo.
BVU - O que você espera conquistar a médio ou largo prazo vivendo no Uruguay?
Eu espero crescer com meus projetos pessoais, recentemente junto a meu namorado, criamos uma página de desenho gráfico e web, traduções e textos, chamada Lemon Dess e junto com a revista Padres, espero poder ter minha independência financeira, poder comprar uma casa e um carro no futuro.
BVU - Qual conselho você daria a quem está pensando em viver em terras charruas?
Eu continuo apaixonada pelo Uruguai e acho que é um ótimo país para viver, principalmente para criar minhas filhas. Como todo país você vai se deparar com coisas que não te agradam, mas isso vai passar em todos os lugares.
Acho que o essencial antes de vir é se informar do custo para viver e da documentação necessária para ser residente.
Sabrina e o companheiro Juan.
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Deixo registrado meu agradecimento a Sabrina pela confiança e disposição em ajudar, desejo muita felicidade em seus caminhos e prosperidade em todos os seus projetos.
Espero que vocês tenham gostado do bate-papo! ;)
Abraço!