Volto a escrever depois de uma longa pausa. 6 meses para ser exata. Tanto mudou. Até o layout dessa plataforma, tá tudo diferente e eu perdida nas funções, atalhos e teclado. Metáforas da nova vida também.
Primeiro, perdi as notas do celular. Todo o conteúdo das férias no Uruguai tava lá, um belo dia deixou de funcionar, eu vida loka nunca fiz cópia de seguridad. Aí fui relembrando e escrevendo aos poucos no computador e caí no mesmo erro. Desapareceu sem deixar vestígios. Fim de uma era, pensei dramática, o universo mandando mensagens, ninguém nem lê mais blog, fia. Pára.
Então veio o apocalipse, confinamento. Coletivo, sério, pesado. Obviamente não estou no Brasil nem Uruguai, isso aconteceu na Catalunha (e em outras localidades sensatas do mundo). 100 dias de confinamento coletivo sob pena de multa e prisão, saídas verdadeiramente restritas e justificadas.
Eu, que estava com a imunidade baixa, fiquei 27 dias seguidos sem sair do apartamento. Para nada. Nenhuma fugidinha, jeitinho ou necessidade exterior. Trancados com uma criança ativa de 5 anos acostumada a vida outdoor que a gente vivia. Redução de salário. Curso pela metade. Escola fechada. Notícias ruins. Medo e ansiedade.
Nós do outro lado do mundo sem ninguém para acudir num infortúnio qualquer, fronteiras fechadas. Soledad e introspecção. Escola online em catalão, a primavera que vimos de um espelho partido. Camarada Benedetti me contou, esse uruguasho sangue bom. A literatura salva. Nunca li tantos livros num intervalo tão curto, ou não. A medida de tempo já não fazia sentido. Nada fazia sentido. O que dizer, o que contar. Para quem contar. Recortes e privilégios. Nossos fantasmas leves perto de outras dores.