Cada vez gosto mais dessa série que apresenta as histórias de outros brasileiros que vivem no Uruguai.
A nossa colaboradora de hoje é a Raida Campos, uma mineira querida que mora em Montevidéu há quase 2 anos.
Para mim é sempre é uma satisfação conhecer a experiência de outros compatriotas, saber o que eles estão fazendo e achando da vida no paisito.
Uma das grandes alegrias que o blog me proporciona é essa oportunidade de conhecer muita gente bacana, várias amizades virtuais já passaram para o plano real e a Raida foi uma dessas surpresas boas.
Nos conhecemos de um jeito diferente, geralmente são as meninas que conhecem o blog e depois me apresentam a seus respectivos rs, mas dessa vez quem nos apresentou foi o marido dela que conheceu a página primeiro.
Isso aconteceu bem na época que eu estava organizando a mudança a Dublin e só pude conhecê-los pessoalmente um ano depois quando retornei ao Uruguai. Aí foi fácil entender porque já simpatizava com o casal desde a telinha do computador.
Dessa amizade surgiu ainda a primeira parceria do blog: o anúncio que vocês vêem da Uruguias ali na barra lateral.
E para terminar, descobri outro talento da Raida, ela faz pão de queijo. Oh, Deus abençoe os mineiros rs!
Vamos a entrevista! ;)
BVU - Como surgiu a ideia de morar no Uruguay?
Acho que como a grande maioria das brasileiras que decidem viver aqui: por AMOR, me casei com um uruguaio rs!
A história é longa, decidi ir de férias a Buenos Aires sozinha, programei toda a viagem, fiz roteiro, tudo programadinho. Muitos dias na Argentina e já satisfeita com os passeios feitos, resolvi atravessar o Rio de la Plata e ficar 4 dias no Uruguai.
Foi então que tudo começou, conheci o Jorge Alegre, e afortunadamente não foi apenas um “amor de verão”. Namoramos à distância por um tempo, ele foi morar em Belo Horizonte para ficarmos mais próximos e enfim nos casamos no Brasil e depois viemos morar em Montevidéu. Estou aqui há 1 ano e 9 meses e espero ficar por muitos anos mais!
BVU - Como organizou a mudança?
Como o Jorge já tinha os documentos brasileiros, nos casamos no civil lá em MG. Foram muitas idas e vindas (tradutor público, Consulado Uruguaio, etc), mas acabou sendo mais fácil casar no Brasil e revalidar a certidão aqui.
Também fiz aulas de espanhol particular com meu noivo, só para não chegar crua de tudo.
Com toda correria do casamento, festa, mudança (só quem já passou por isso sabe rs), não tive tempo de organizar os documentos necessários para revalidar meu diploma no Uruguai.
Por fim, tirei do fundo do baú todas as minhas roupas de frio que tinha quando morava na Itália, já sabia do frio que iria enfrentar por aqui, dito e feito: cheguei no final de julho e peguei um inverno típico, no início você gosta, acha romântico! Mas depois o excesso de vento, umidade e frio passam a incomodar...
BVU - Como foi conseguir um lugar para morar?
Não foi fácil, os proprietários te pedem 6 meses de aluguel adiantado como garantia (pelo menos no nosso caso foi assim). Por sorte conseguimos alugar em uma zona muito tranquila e bonita, perto da rambla e perto de um parque, isso me ajudou na adaptação.
BVU - O idioma foi uma barreira em algum momento?
Sou crítica comigo, mesmo me esforçando e ouvindo as pessoas dizerem que eu estava falando bem, sempre esperava que podia ser melhor, hoje estou mais tranquila em relação a isso.
Me convenci que preciso falar gramaticalmente correto e de forma que as pessoas me entendam, nunca vou falar como uma uruguaia.
No início, o fato de não falar fluentemente não chegou a ser uma barreira porque eu procurava oportunidades de trabalho com exigência apenas do português e nas ruas as pessoas são muito educadas e prestativas, até tentam falar um portunhol para te ajudar!
Mas é muito importante estudar e ter uma boa base do idioma antes de vir, te abre mais portas e te dá mais segurança.
BVU - Com o que trabalhava no Brasil e com o que trabalha atualmente?
Sou pedagoga e estava cursando Serviço Social (na metade do curso), até tentei transferir, mas não foi possível, as leis são diferentes.
Trabalhei como orientadora educacional durante um tempo, mas o último trabalho era como coordenadora de projetos sociais no CRAS e pedagoga no CREAS com adolescentes infratores, não era um trabalho fácil, mas o resultado era muito gratificante e enriquecedor.
Chegando aqui a primeira oportunidade de trabalho que tive foi em um call center com português. Meu marido tinha começado a desenvolver um projeto com outros guias colegas dele, os quais há anos já trabalhavam nesta área e todos bilíngues. Daí decidi abraçar a causa também, me inscrevi no curso de Gestão Turística e começamos a trabalhar com turismo receptivo aqui no Uruguai.
Muito trabalho veio pela frente, planejamento, organização, estudos, mas os resultados chegaram e muito positivos. Em pouco tempo o Uruguias conseguiu um importante posto de segundo lugar no TripAdvisor e com excelentes avaliações. Nosso objetivo é oferecer um serviço personalizado, de qualidade e não temos a intenção de trabalhar com turismo de “massa” e de “preço”. Trabalhamos com traslados e passeios por todo o Uruguai, nosso público a maioria provém do Brasil, mas temos recebido muitos americanos, europeus e asiáticos.
Para mim está sendo uma experiência incrível estar sempre em contato com minha gente, fazendo o possível para que possam ter uma boa e inesquecível experiência!
BVU - Foi difícil conseguir trabalho? O que você acha do mercado uruguaio em relação a estrangeiros?
Não, consegui trabalho no primeiro mês de moradia aqui, mas não na minha área como gostaria. Basicamente 90% das oportunidades são como operador de telemarketing, se você não tem a revalidação do diploma, dificilmente terá outra oportunidade. A não ser que trabalhe por conta própria.
BVU - Você conseguiu alguma oportunidade na sua área de formação?
Na realidade não busquei trabalho na minha área, pois não tinha o diploma revalidado e já sabia que seria impossível dessa forma. Posteriormente, decidi mudar meu foco e estudar um novo curso na área de turismo na qual já estava trabalhando.
BVU - Te parece um lugar barato para viver?
Não, percebi isso desde a primeira vez que vim aqui a passeio. E depois de estar morando, com o dia a dia você se dá conta que o custo de vida aqui é ALTO.
BVU - Qual item pesa mais no orçamento doméstico? Ex.: educação, moradia, transporte, alimentação, vestuário, etc.
Há coisas que são exorbitantes, como a alimentação, mas depois de colocar tudo na balança dá para obter um equilíbrio. Em comparação ao Brasil, a saúde e o transporte são mais baratos (me refiro a transporte público e táxi, porque o combustível é caríssimo). Mas a alimentação e a moradia são muito caras, na minha opinião.
BVU - Você já sofreu algum tipo de preconceito no Uruguay?
Não, nenhum. Pelo contrário, achei que as pessoas te recebem de braços abertos.
BVU - Qual foi a maior dificuldade de adaptação?
Sem dúvida a comida rs! Como uma típica mineira que gosta de muita variedade no prato e uma comida bem temperada, não foi nada fácil. Além da comida, os hábitos alimentares são muito diferentes. Mas com o tempo tudo se solucionou, pois adoro cozinhar e comemos somente em casa.
Tem dia que a saudade da família e dos amigos dói, mas daí eu penso: foi uma escolha e toda escolha exige mudança e perda, mas eu estou feliz com a decisão.
Gosto do clima daqui, tem as estações bem definidas, mas o inverno intenso cansa rs.
Outra coisa que me incomodava era a lentidão dos ônibus, tinha a sensação de estar perdendo tempo. Mas hoje até disso eu gosto rs! Aprendi a gostar e viver o ritmo de vida daqui, sinto que estou desacelerando da loucura da correria que era minha vida nas capitais onde já morei no Brasil.
BVU - Há alguma informação que se você soubesse antes de ir, teria facilitado ou acelerado seu processo de adaptação?
Acho que só o tema do idioma mesmo, se tivesse um nível mais avançado teria facilitado muita coisa. A burocracia com a documentação para residência não tem como fugir dela, eu fiz tudo correto desde o Brasil e mesmo assim foram horas em filas, taxas e mais taxas a pagar e uma longa espera.
BVU - O que você espera conquistar a médio ou largo prazo vivendo no Uruguay?
Na vida pessoal, eu quero ter e criar meus filhos aqui, com segurança, tranquilidade e qualidade de vida.
Pretendo crescer profissionalmente neste novo ramo que eu escolhi, dar o melhor de mim, trabalhar com dedicação, pretendo me especializar mais, apostar todas as fichas e dar asas para ver esta empresa decolar cada vez mais! Hoje o Uruguias não é só um projeto, é uma realização para mim.
BVU - Qual conselho você daria a quem está pensando em viver em terras charrúas?
Isso é relativo, pois depende do motivo pelo qual a pessoa vem, mas em geral: prepare toda a papelada para residência e se prepare emocionalmente, porque por mais que seja muito bom e gostoso viver aqui, como eu acho, é outra cultura, outros hábitos, tem que vir de mente e coração abertos e disposto a aprender, aceitar e mudar, as vezes pode cair um “bajón” como eles dizem aqui.
E um bom nível do idioma ajuda muito em tudo, o resto é com cada um!
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Mais uma vez agradeço a Raida pela confiança e boa vontade em atender esse pedido para contar um pouco mais sobre a experiência de viver no Uruguai.
Desejo de coração que sua trajetória seja iluminada e você possa alcançar seus sonhos!
E espero que vocês também tenham gostado de conhecer essa nova história.
Abraço! ;)