Algumas dicas para o turista em Montevidéu

Um post com algumas dicas - curiosidades - informações, ou como queiram chamar rs, que poderão ajudar nos seus dias de turista em Montevidéu e demais cidades do Uruguai.

1- Pagar a conta do restaurante com cartão de crédito

Nesse ponto o Uruguai vai na contramão daquela regrinha de usar o cartão de crédito em viagens ao exterior somente em caso de emergência, a gente sempre fica com aquele medo da taxa de cambio aplicada na fatura e as taxas de IOF.

O que faz compensar usar o cartão de crédito em restaurantes no paisito? Um bom desconto de 18,5% na conta.

Aqui existe uma lei de beneficio ao turista que garante a devolução do IVA a pessoas físicas não residentes que efetuem pagamento com cartões de crédito ou débito emitidos no exterior. 

Compreende serviços gastronômicos prestados por restaurantes, bares, cantinas, confeitarias, cafés, salões de chá ou similares.

E não termina por aí, há outras vantagens previstas na lei:

- Desconto do IVA também em hotéis para estrangeiros que apresentam o documento de identidade. 

- Possibilidade do pagamento dos pedágios em moeda nacional, pesos argentinos, dólares e reais. 

Prazo de vigência da lei: até abril de 2018 (mais uma vez  foi prorrogado, eba!).
* Lembrando que o IOF vai continuar aparecendo na fatura no Brasil, mas com o desconto de 18,5% concedido no Uruguai, a matemática ainda compensa rs. 

Em regra o desconto chega depois na fatura, mas já vi ser aplicado no momento da compra também.


E recordo que me refiro a vantagem de utilizar o cartão para pagar a conta do restaurante.



2- As fichas e o preço da corrida de táxi

Já comentei nesse post como é pegar táxi no Uruguai, como o texto é antigo, vale lembrar como funciona essa questão do pagamento da corrida.

O táxi tem aquela barreira esquisita que separa o motorista dos passageiros, mas não é só isso que chama a atenção: o taxímetro muitas vezes contabiliza fichas e não o valor a pagar.


As corridas não costumam ser caras, mas não se empolgue achando que o taxímetro está marcando 5, 10, 20 ou 30 pesos apenas, isso é o número de fichas. 

Dentro de cada carro há duas tabelas de preços, uma diurna e outra noturna, e chegando ao destino o motorista irá conferir o número do taxímetro e o correspondente em pesos uruguaios na tabela.

Há alguns táxis que contam com o taxímetro que expressa o valor em pesos e fichas, mas ainda é comum encontrar carros utilizando o sistema de fichas.  


3- Horário das lojas do Centro no fim de semana

O comércio no Centro de Montevidéu encerra suas atividades bem cedo no sábado, depois das 13h as lojas já estão fechadas e o movimento nas ruas cai consideravelmente. 

No miolinho da Ciudad Vieja é possível encontrar algumas coisas abertas, locais que são essencialmente direcionados ao público turista. Mas não espere encontrar muitas opções depois das 16h de sábado.

Nos domingos o comércio permanece fechado.


4- Ônibus CA1

É uma linha de ônibus que circula no Centro e tem a passagem mais barata: 24 pesos ao invés dos 33 pesos dos demais ônibus (tarifas atualizadas).

É uma boa opção para quem quer ir de um ponto a outro da Avenida 18 de Julio e já está cansado de andar. Dá para ir da Praça Independência ao Mirante da Intendencia, por exemplo, pagando menos e sentado.

Dicas de Montevidéu

Pegando qualquer ônibus de linha em Montevidéu é importante guardar esse ticket que o motorista/cobrador entrega quando pagamos a passagem, pois existe a possibilidade de entrar um fiscal solicitando esse papelzinho no decorrer da viagem.

Na real não é comum que entrem fiscalizando, poucas vezes vi um fiscal subir para conferir, mas na dúvida é melhor guardar, né?



5- Pedir o Menú Ejecutivo ou Menú del día

A maioria dos restaurantes oferece uma promoção que inclui bebida, prato principal e sobremesa no cardápio de segunda a sexta-feira. 

Geralmente são 2 opções de prato do dia - quase sempre uma pasta e outro prato - e custa em média 300 pesos (mas claro que há lugares que cobram mais e outros que cobram menos, os locais chamados de 'Rotisería' costumam oferecer os melhores preços para almoço).


Hoje almocei no Gardenia, um restaurante bacana que fica no World Trade Center, região super moderninha em Pocitos, e paguei 370 pesos uruguaios no menú del día, bem mais em conta do que se tivesse pedido um prato do cardápio, bebida e sobremesa separados.


6- Cubierto e gorjeta

Duas coisas que costumam confundir o turista na hora da conta, mas o cubierto e a gorjeta não se confundem.

O primeiro é o serviço de mesa que muitos restaurantes costumam cobrar por pessoa, o pagamento não é facultativo, por isso é interessante verificar no cardápio ou perguntar ao garçom se é cobrado para evitar surpresas, geralmente é um valor entre 40 e 80 pesos uruguaios.

A gorjeta é chamada de propina e os garçons quando percebem que o cliente é estrangeiro fazem questão de mencionar que essa opção não está incluída ou sugerida na conta rs.


Dica Extra: Museus

Montevidéu está cheia de pequenos e interessantes museus que não cobram nada pela entrada, você só gasta seu tempo e ainda sai ganhando em cultura e diversão. Em breve publicarei uma lista com essas opções.


Bom final de semana! ;)
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Comprar roupa em Montevidéu: lojas e descontos

Publiquei uma foto do shopping em liquidação lá no perfil do Instagram e Facebook e prometi fazer um post com informações sobre as lojas de roupa em Montevidéu.



Cá estou e peço licença aos meninos, esse post será bem luluzinha, só com dicas de lojas femininas.

Escrevi um post sobre compras em Montevidéu anos atrás, ele está sempre entre os dez textos mais lidos do blog e é um tema que rende muitas perguntas, indicando que há tempos merecia uma continuação/atualização. 

O problema é que cada vez compro menos, cada vez tenho mais agonia de shopping, cada vez acho tudo mais caro e aí não entrava no clima para falar de compras, coisa e tal.

Na semana passada encontrei a inspiração que precisava: o Montevideo Shopping todinho em liquidação.

E vou falar uma coisa a vocês, liquidação aqui é um negócio levado a sério, os preços são realmente remarcados com a porcentagem anunciada e faz meu discurso de consumo consciente ir praticamente para o beleléu rs

Não sei até quando cada loja manterá as ofertas, mas redes como Zara e Gap tinham um estoque tão grande de peças em promoção que acredito que os descontos irão durar por pelo menos mais uma semana. 

Sabe aquele shortinho sensação da Zara assimétrico? Tá saindo por 39 reais. Vem pra cá e não tem casacão de frio? Os sobretudos estão custando 200 reais. Precisando de outras peças? Tem vestidos por 60 reais, calças coloridas e bolsas por 99 reais. Uma Zara de dois andares toda com preços remarcados.



- Ok, Jamile. Mas chego aí no mês que vem, já vai ter terminado a promoção. O que esperar então?

No dia a dia não acho os preços das roupas aqui tão atrativos para querer renovar todo o guarda-roupa e muita gente quando planeja uma viagem pra fora faz logo uma ideia  'Miami de ser', acho um erro pensar que vai encontrar outlets ou lojas de grandes marcas a preço de banana no Uruguai, porque né? A banana nem é barata nessas bandas rs.

Na minha opinião, roupa de grife tem custo semelhante ao Brasil. 

E não, na cidade de Montevidéu você não vai encontrar uma rua cheia de outlet da Lacoste, Prüne e similares como existe lá na vizinha Buenos Aires. Também não vai encontrar pelo caminho aquelas redes gringas baratinhas que amamos e dão pinta em Santiago no Chile, como a H&M e Forever 21

*Update: Em novembro 2014 inaugurou a Forever 21 em Montevidéu.

Agora se você está procurando lojas locais com bom desenho, qualidade razoável e preço pagável, pode se animar de novo, um passeio no shopping provavelmente irá render boas compras.

As lojas que encontramos nos shoppings de Montevidéu que mais me agradam por reunir esse pacote 'design - qualidade - preço' são as seguintes:


A Lemon e Daniel Cassin acho que seguem uma linha mais jovial no estilo da Forever 21, por exemplo. 

Mas vejo a Lemon com um perfil um pouco mais mulher, menos frufruzinho fofo, sabem? Eles têm até uma linha - bem limitada, mas tem - para gestantes, comprei uma calça com aquela faixa para grávida super confortável que foi a salvação para meus dias de trabalho e custou uns 180 reais.

Na Daniel Cassin tem muita t-shirt, vestido, sainhas e shorts. Sempre gosto dos casacos das coleções de inverno, tenho uma jaqueta de couro fake que leva 3 anos e segue como nova. Os preços vão de 390 a 2 mil e poucos pesos uruguaios (mais ou menos de 39 a duzentos e tantos reais). 

Geralmente compro camisetas por 40, vestidinhos entre 70 e 120, calças entre 120 e 160 reais. Eles também vendem sapatos e bolsas, acho a qualidade mais ou menos, mas o preço compensa, compro sabendo que não vão durar toda a vida e sou feliz com rasteirinhas e sapatilhas bonitinhas de 40 e 50 reais.

A Lolita me parece mais clássica, mais com cara de 'look vou trabalhar'. Gosto muito da coleção de inverno deles, os casacos sempre são lindos, mas não muito baratos rs, aí a gente se agarra na ideia de durabilidade, não tenho no armário peça que dure mais do que sobretudo de inverno.


Lojas de roupa em Montevidéu

Similar a Lolita tem a Limite e Vitamina, ambas oferecem roupas também mais clássicas e muito bonitas, porém o precinho é mais salgado. 

Outra loja que vale dar uma olhada é a Piece of Cake, é parecida a Daniel Cassin, mas acho ainda mais teen, então entra o quesito sorte achar peças que sejam menos menininhas

A Uniform dificilmente entro porque esqueço que tem roupa feminina! Acho a vitrine e o universo da loja muito mais masculino e acaba não me chamando tanto a atenção quando estou no shopping. Mas eles têm ótimos jeans e as peças femininas um estilo mais despojado. É uma ótima opção para os rapazes, fica a dica para quem quiser presentear os boys.

A Bellmur tem umas peças diferentes, algumas vezes me convencem, outras parecem esquisitas demais, mas tem muita gente que gosta e vale dar uma conferida.

A Wanama é uma marca argentina, na verdade muitas dessas lojas que citei têm origem do outro lado do rio, quando chamo de 'locais' é simplesmente porque são as lojas que encontramos aqui, também pode valer a visita.

Margara Shaw tem um conceito mais elegante e exclusivo, é uma loja carinha, coqueta como diriam aqui, aponta a um público mais exigente.

Nos shoppings encontramos ainda a Indian e Parisien, essas redes depende muito da época que visitamos, tem dias que não dá para resgatar nada, tem dias que dá para sair com a sacola cheia. 

Elas são as mais baratas e vendem de tudo: de calcinha e soutien a acessórios, calças, camisas, sapatos, etc. Se você é chegada numa comprinha no AliExpress, vai tirar de letra fuçar as araras dessas lojas porque é preciso paciência para achar as peças com qualidade razoável. 



Comprar roupa em Montevidéu

Clicando nos links das lojas dá para ver as fotos das coleções e já ir selecionando as lojas que combinam mais com você.

E lembram que falei que não temos em Montevidéu aqueles super outlets de marcas de grife? Pois bem, a falta é compensada pelos outlets das marcas da região. A Indian, Parisien, Daniel Cassin, Lolita, por exemplo, oferecem lugares para venda de ponta de estoque. 

Apesar de estar surgindo uma tendência em concentrar essas lojas na Avenida Itália e Gral. Flores (ali próximo ao Palácio Legislativo), alguns outlets ficam em regiões mais afastadas, quem quiser ir atrás das pechinchas vai ter que visitar ruas que provavelmente não passaria se estivesse cumprindo o roteiro turista do dia.

Se vale a pena? Ainda não fui em nenhum, mas amigas garantem que nos outlets da Indian/Parisien é possível encontrar camisas por 70 pesos, mais ou menos 7 reais, e muita coisa barata de verdade.

Seguem alguns endereços (lembrando que há lojas que disponibilizam mais de um local de outlet, como ainda não fui pessoalmente a nenhum, estou citando aleatoriamente alguns exemplos):

Lolita - Gral. Flores 2402 e Blandengues / Av. Italia 3800 esquina Francisco Solano López

Levi´s - Gral. Flores 2067 esquina Agraciada

Parisien - Fernández Crespo 1662 esquina Mercedes

Uniform - 18 de Julio esquina Gaboto – Galería del Notariado 


Uma curiosidade para terminar o post, todo mês há um 'dia do Centro' em Montevidéu que consiste em oferecer descontos de 18% nas lojas do Centro da cidade e gera muito movimento nas ruas. 

Há um calendário fixo e as datas até o fim do ano já foram definidas: 14 e 15/08, 11/09, 09/10, 13/11 e 11/12.

Boas compras e se tiverem pouco tempo para explorar a cidade, a dica é deixar o momento compras para o free shop do aeroporto na volta para casa, Montevidéu está cheia de passeios bacanas para viver! ;)


Abraço!


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Sociedade da Neve: Museu do Andes em Montevidéu

Há tempos queria escrever sobre essa história no blog, mas nunca pude organizar os pensamentos com um sentido lógico que valesse a pena uma leitura. Não sei se consegui dessa vez, mas já era hora de tirar esse post do rascunho.

É que me perco num mundo de pensamentos soltos. Lembro a primeira vez que vi a cordilheira dos Andes fora dos livros de geografia da escola, tinha  21 anos e a montanha estava ali soberana, imponente, como se tivesse vida própria, uma energia difícil de explicar.

Nessa viagem eu ainda não conhecia a história dos sobreviventes do vôo 571. Quer dizer, sabia que havia ocorrido um acidente aéreo nos Andes e houveram sobreviventes, sabia que havia rolado uma história meio sinistra de canibalismo. Tinha até visto um filme esquisito baseado em fatos reais chamado Vivos

Não tinha muita noção do que era ficção ou realidade, desconhecia a história dos envolvidos, nacionalidade, época da tragédia e outros detalhes. 

Até que no meu primeiro ano morando no Uruguai encontrei um livro na estante do meu namorado que tinha o título A Sociedade da Neve, folheando vi que tratava-se de relatos dos sobreviventes do vôo 571 e descobri que eles eram todos uruguaios. Um dos rapazes, inclusive, é filho do artista plástico Carlos Paez Vilaró (criador da belíssima Casapueblo). 

Fiquei com aquela cara de boba, uma história que ganhou o mundo tinha origem aqui no país vizinho e eu não sabia de quase nada.



Curiosamente, encontrei o livro na mesma época que anunciaram na tv o documentário e o assunto se fez presente muitas vezes aqui em casa. Não sei dizer exatamente o que mais me toca nessa história, mas me impressiono e facilmente sinto um nó na garganta ou uma lágrima correndo pelo rosto enquanto leio umas páginas ou escuto alguns depoimentos.

Daí a minha surpresa quando um dia andando pela Ciudad Vieja vejo uma casa com um letreiro de Museu Andes 1972:

- Como assim um museu e desde quando? 

Pois é, trata-se de um museu bem novinho, aberto há pouco mais de 6 meses. Entrei, peguei informações e fiquei de voltar outro dia.


Para quem não lembra da tragédia que ficou conhecida como o "Milagre dos Andes", faço um breve resumo: no mês de outubro de 1972 um vôo fretado com 45 pessoas partiu de Montevideo com destino a Santiago, no grupo haviam jovens integrantes da equipe de rugby Old Christians Club que iam jogar uma partida na capital chilena, e também amigos e familiares destes.

Após uma parada devido ao mal tempo em Mendoza na Argentina, o avião seguiu viagem e no dia 13 de outubro caiu em meio às montanhas nevadas da cordilheira.

Com a queda 13 pessoas morreram, incluindo o piloto, co-piloto e o médico que acompanhava o grupo. As demais tiveram que enfrentar condições climáticas extremas sem equipamentos especiais para a neve e com pouquíssima comida. 

Os trabalhos de buscas tinham apoio dos 3 países envolvidos: Chile, Argentina e Uruguai, porém o avião branco em meio à neve tornava praticamente impossível o trabalho das equipes e após 8 dias as buscas foram encerradas: todos foram dados como mortos e o mais perturbador é imaginar que os sobreviventes escutaram essa notícia pelo rádio do avião.

É surreal imaginar essa cena, a pessoa ali debilitada fisicamente pelo acidente, emocionalmente destroçada pelo choque de ter sobrevivido e pelas perdas dos companheiros ao redor, totalmente perdida no meio do nada com fome, frio, sede, mantendo apenas a esperança de um resgate. E aí é anunciado que esse resgate não ocorrerá, aquela pontinha de esperança é cortada talvez mais abruptamente do que a própria queda do avião. Como seguir acreditando, como pensar num jeito de sair dali e gritar  para o mundo que eles estavam vivos?

Nesse cenário de incertezas eles foram surpreendidos por outro acidente: uma avalanche caiu sobre a fuselagem onde eles dormiam e mais 8 pessoas faleceram asfixiadas pela neve, dentre estas a última mulher sobrevivente do grupo.

A luta pela sobrevivência era diária, eles tiveram que fabricar elementos e utensílios para driblar o meio hostil, criaram alambiques, luvas e roupas com o forro dos assentos do avião para suportar o frio, uma especie de engenhoca para derreter a neve e ter água para beber, óculos para resistir à luz branca e intensa da neve e não comprometer a visão, etc.

Convencidos que já eram os únicos responsáveis pelo próprio destino, eles decidiram apostar numa expedição em busca de ajuda, três integrantes do grupo partiram rumo à civilização, ou pelo menos onde eles acreditavam que encontrariam auxilio, é que eles contavam com a informação errônea da localização dada momentos antes da queda, pensavam que já estavam do lado chileno e terminaram escolhendo o caminho mais complicado possível. 

Iniciaram uma caminhada sem nenhum recurso adequado no que diz respeito a equipamentos, roupas, acessórios, sem nenhum tipo de treinamento e a essa altura sem força física, já havia passado quase 2 meses. 

Dois meses, gente! Vivendo num terreno sem animais ou vegetação e com temperaturas entre -25 e -42 °C. Acho que nem com muito esforço a gente consegue dimensionar o que é viver por semanas nessas condições.

No terceiro dia de caminhada, um dos integrantes voltou para o acampamento. Os outros dois seguiram por mais 7 dias numa paisagem que colocava em cheque a viabilidade do plano: montanhas, neve e mais neve, pouca visibilidade, nenhum sinal de vida no caminho. A dupla se guiava por uma montanha que aparecia ao fundo e que se revelava sem o pico coberto de neve, nesse ponto podia haver um vale, um povoado, uma ajuda. 

Passados 10 dias de expedição, eles finalmente avistaram a figura de um homem a cavalo. Nando Parrado tentou comunicar-se, mas não conseguiu devido ao barulho do rio que os separava. O homem brilhantemente amarrou uma folha de papel e caneta numa pedra e lançou ao outro lado do rio, o uruguaio a duras penas conseguiu escrever a seguinte mensagem:
"Vengo de un avión que cayó en las montañas. Soy uruguayo. Hace 10 días que estamos caminando. Tengo un amigo herido arriba. En el avión quedan 14 personas heridas. Tenemos que salir rápido de aquí y no sabemos cómo. No tenemos comida. Estamos débiles. ¿Cuándo nos van a buscar arriba? Por favor, no podemos ni caminar. ¿Dónde estamos?"

O chileno Sergio Catalán, um homem simples do campo, entendeu a mensagem e cavalgou aproximadamente 8 horas para levar a informação ao posto de oficiais mais próximo. E aí é uma das partes que mais me emociono, um estranho cavalgar 8 horas para levar uma mensagem, ato de uma alma iluminada que apareceu na vida dessas pessoas que vinham sofrendo tanto.

A partir daí se organizou todo o resgate, as equipes recebiam o chamado incrédulas. Passaram-se 72 dias. Sobreviveram 16 pessoas. A notícia do resgate chegou a Montevideo e não sabiam ao certo se era boato, o quanto era verdade, estamos falando do início da década de 70, os meios de comunicação não eram tão velozes, num primeiro momento não sabiam exatamente os nomes dos que sobreviveram. 

É muito forte escutar os relatos das famílias sobre esse essas horas, ouvir como eles se sentiram durante esses 72 dias e o renascimento da esperança, a angústia da espera, de saber se o nome do filho estava na lista, se estavam voltando para casa e posteriormente a sabedoria para receber esses meninos e assimilar o turbilhão de emoções que se davam a todo instante. Os meninos chegaram a tempo de passar o Natal em família.

Por muito tempo todos eles fizeram um pacto de silêncio em memória e respeito aos companheiros que faleceram nas montanhas, hoje detalhes da tragédia e milagre estão ao nosso alcance em forma de livros, documentários e entrevistas em programas de tv. 

Nesse link você pode assistir um dos melhores documentários com relatos dos sobreviventes (não consegui postar o vídeo diretamente no post).

E agora Montevideo conta com um espaço digno para contar essa história incrível. Consegui finalmente voltar ao museu e fiquei muito feliz com o que vi. 


Me pareceu um espaço muito comprometido e lúcido, desde o início você sente que há um cuidado e respeito à memória e aos fatos. 

Não transformam as pessoas em heróis ou vilões, são gente como a gente, houveram fragilidades, medos, erros, dúvidas. Eram jovens de classe média com seus 20 e pouquinhos anos que estavam numa viagem curta sem equipamentos ou roupas apropriadas para a neve, sem treinamento algum para sobreviver em condições adversas. 

E em meio a esse cenário tiveram uma determinação absurda para seguir lutando pela vida, usaram da criatividade e inteligência para estabelecer uma sociedade e venceram. Trabalho em equipe, amizade e solidariedade foram palavras que marcaram e definiram essa trajetória.

O museu em nenhum momento faz uma abordagem apelativa do canibalismo. Frente a uma história tão rica de luta pela vida, não faz sentido a antropofagia ser destaque. Não nos cabe apontar o dedo. É diferente de negar. Está lá. Ocorreu e só eles sabem as circunstâncias e dores. 

A visita ao museu é  um convite à reflexão, acho pouco provável terminar o passeio e não pensar em nossas próprias vidas. Sem dúvida é uma história que inspira e emociona, vale a pena conhecê-la mais de perto. 

Para anotar na agenda 'do que fazer na Ciudad Vieja'. Vai levar mais ou menos 1h do seu dia e a entrada custa 200 pesos uruguaios, ou 20 reais bem investidos. Fica ali pertinho da Praça da Igreja Matriz.


Endereço Museu dos Andes: Calle Rincón, número 619.


 Abraço! ;)


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