Eu morro de amores pelo meu bairro e acho que todo mundo deveria esticar o passeio pelas bandas de cá.
Há tempos prometo esse roteirinho, mas a verdade é que não sei explicar direito porque Malvín merece a sua visita: o bairro não tem nenhuma grande atração turística imperdível, daquelas que aparecem nas listas dos blogs de viagens justificando a necessidade de se afastar do circuito Pocitos - Punta Carretas.
Venha aproveitar esses dias de meia estação com solzinho, céu azul e clima gostoso, já não faz muito frio e ainda não faz muito calor, fica perfeito para colocar um calçado confortável e desbravar a cidade a pé ou de bicicleta.
Pensei em duas formas de iniciar esse roteiro, a primeira começando no bairro vizinho Buceo, mais especificamente no Museu Zoológico, uma construção bem inusitada que fica de cara para a rambla e guarda uma história curiosa: nos anos 20 um senhor dono de um
cabaret encomendou a obra para ser um ""café"" (assim com muitas aspas porque as intenções eram duvidosas), seria chamado de Cabaré da Morte pela localização do prédio bem na curva da avenida, um ponto que já provocou muitos acidentes de trânsito.
Nos anos 30 a construção teve início, mas o negócio não funcionou e acabou virando a sede da Estação Oceanográfica que também não rolou por muito tempo. Passou anos fechado e em 1956 foi designado como Museu Zoológico.
O acervo do museu não me agrada muito (sei lá, fico aflita com taxidermia), acho a área externa muito mais interessante: os arcos e pátio do prédio são ótimos para fotos, tem banquinhos para relaxar vendo a rambla e aparelhos de ginástica para quem é fitness até viajando.
Seguindo a caminhada rumo a Malvín, passamos pelo
Greetingman - o homem que cumprimenta, conhecido popularmente como o coreano azul, uma escultura que gerou polêmica e foi um presente da Coreia do Sul representando a harmonia existente entre os países.
Mais adiante chegamos numa pracinha dedicada ao '
adulto mayor' (na Rambla República de Chile entre as ruas 9 de Junio e Colombes), tem mesas e bancos, árvores e sombra e uma boa vista para a praia de Buceo. Aproveite para descansar porque estamos na metade do caminho.
Pode parecer longe olhando no mapa, mas é muito fácil, faço sempre esse trajeto numa boa.
Mas quem quiser diminuir a caminhada, pode começar o roteiro desse ponto, o ônibus 104 pára justo a poucos passos da praça.
Aliás, o 104 funciona lindamente como um bus turístico, com a vantagem de custar menos de 3 reais, passa por toda orla de Buceo e Malvín e chega até o elegante bairro Carrasco.
Se você estiver fazendo esse roteiro numa terça-feira, pode subir pela rua Colombes e dar um pulinho na feira para viver uma experiência local.
Recomendo parar no carro de queijos e pedir um pedaço de queijo colonia, típico da região de Colonia, outro de
dulce de membrillo e ser feliz comendo o tradicional
Martín Fierro, a versão uruguaia do nosso Romeu e Julieta.
Daí é só voltar para a rambla e andar até a ponte de madeira mais fofa que dá acesso a praia.
A praia de Malvín é a minha preferida da cidade, a ilhota
Isla de las Gaviotas em frente dá um charme diferente, e no fim de tarde o pessoal do kitesurf aparece trazendo um colorido para a paisagem.
É uma praia urbana mais protegida, não está tão próxima do asfalto e barulho dos carros, como a praia de Pocitos, por exemplo, e a faixa de areia é maior, a sensação é que não ficamos tão amontoados e temos mais liberdade para estender a canga.
A praia é uma delícia para descansar, pegar sol, ler um livro, assistir o por do sol e dependendo do dia, rola até banho (há dias que a água do rio está bem barrenta, outros bem transparente).
A essa altura a fome deve estar aparecendo e a boa notícia é que não precisa nem sair da praia para ter um almoço gostoso e descontraído.
O restaurante Salmuera fica na rambla O'Higgins (número 4748) de cara para o rio e a ilhota, é uma das melhores dicas que poderia dar para quem visita Montevidéu, está fora do circuito turístico, será seu
achadinho da viagem, a vista é linda, a comida uma delícia e o preço bom (pratos a partir de 390 pesos).
Quem estiver com o orçamento mais apertado ou quiser gastar menos no almoço a dica é o La Gándara (rua Amsterdam, número 1449, esquina Velsen), o local abriu recentemente e é uma mão na roda quando estou na correria e não consigo cozinhar. Vendem comidas prontas, o menú é bem uruguaio com canelones (panquecas), lasanhas e tortas salgadas, é gostoso e barato: as porções custam em média 150 pesos.
Terminado o almoço, caminhe um pouco mais pela orla e procure a sorveteria Del Abuelo (rua Orinoco, equina Michigan, logo depois do Salmuera no sentido do bairro Punta Gorda), dos sorvetes artesanais mais maravilhosos da cidade.
Os sabores são bem originais, tem coisas como limão e manjericão, laranja e cardamomo, bolacha maria e doce de leite, vale demais a visita.
Volte para assistir o por do sol na rambla e antes de deixar o bairro, dê um pulinho na padaria Nueva Malvín (rua Hipólito Yrigoyen, número 1419, fica quase na rambla na parte da ponte de madeira) e como bom uruguaio leve uns bizcochos para
casa hotel.
A padaria é uma das minhas preferidas (eu sei, já falei da praia, devo ter dito do restaurante e sorveteria, e agora da padaria, é que esse roteiro tem muito do meu cotidiano), tudo é gostoso, se você for formiga como eu, vai ser difícil sair só com os
bizcochos rs!
Quem topar conhecer o bairro vai ter um dia um tanto diferente longe das atrações turísticas clássicas, mas seguramente terá um dia feliz! :)
Me contem depois o que acharam, marquem as fotos no Instagram com a hashtag #viveruruguay, vejo todas e adoro (o perfil tem que estar desbloqueado) e capaz nos encontramos na feira ou na praia...
Abraço!