A medialuna é uma instituição rioplatense e na fila do pão ou num cafezinho da tarde é ela que eu costumo pedir, mesmo sendo fácil hoje em dia encontrar o croissant em vários lugares em Montevidéu.
Vou pegar esse gancho para falar das padarias. O uruguasho padrão come muito pão, essa cestinha que chega na mesa dos restaurantes nem bem a gente senta não é por acaso, se tiver uma comida de caldo eles precisam xuxar com pão e se não tiver caldo eles vão precisar também hehe.
A discussão da família é quando a gente vai pra Bahia e o digníssimo quer xuxar a moqueca de dendê com pão. Vocês aguentam? Eu não.
Uma das lembranças que tenho dos primeiros meses de mudança no Uruguai foi de ficar completamente perdida com a variedade de pacotes de farinha de trigo no mercado, até nas quitandinhas de esquina sempre tinha a farinha de força, de 3 zeros, 4 zeros, para confeitaria, para pizza, para pão e minha vida inteira até ali farinha de trigo era farinha de trigo com ou sem fermento, apenas.
Lembro também de ficar muito impressionada como as pessoas faziam pizza em casa, assim como convidavam para um churrasco de amigos, tinha esse evento de reunir-se com pizza caseira e tô falando de coisas que passavam há mais de 10 anos, não foi nesse período recente da vida quarenteners onde quase todo mundo tentou fazer pão em casa.
Tem muita padaria boa em Montevidéu desde sempre, o que vem acontecendo nos últimos anos é que entre essas padarias clássicas de toda a vida, apareceram outras propostas nas quais os pães de fermentação natural são protagonistas. Padarias mais artesanais, pães de masa madre.
Ampliando o leque de produtos, nas vitrines os bizcochos e medialunas podem ser vistos juntinhos com croissant, cinnamon roll, pain au chocolat e outros pães que vão além da baguete, fazendo o pão nosso de cada dia uma escolha muito mais interessante.
Bertha (Benito Lamas 2864)
É uma padaria no bairro de Pocitos, projeto de 2 mulheres. A primeira vez que escrevi padeira me pareceu tão estranho que fui no dicionário ver se a palavra estava escrita corretamente e a cilada estava pronta, é um mercado tão masculino ainda que eu até duvidava do nome certo da mulher que faz pão.
Bertha é como carinhosamente elas batizaram a masa madre que cultivam há anos e desenvolve as delícias que apresentam diariamente no balcão. Sou fã especialmente das focaccias, medialunas (provavelmente a minha preferida da cidade, é muita responsa carregar esse título hehe) e rolo de canela.
La Resistence Boulangerie (Libertad y Brito del Pino)
O La Resistence tem uma história muito legal, o projeto foi totalmente abraçado pela comunidade e se transformou. Inicialmente eles faziam pães só para restaurantes e hamburguerias, mas começou um burburinho e muito interesse dos consumidores, daí abriram um dia na semana para venda a pessoa física, fazia fila na porta e hoje já são dois locais - em Pocitos e Carrasco - com venda direta ao público de terça a domingo.
É a padaria que encontro a maior variedade, gosto do clássico pan de campo e do croissant recheado - doce ou salgado - sempre tem uma novidade no mostrador.
Federación (Pérez Castellano 1370)
No último post do roteiro na Ciudad Vieja falei bastante do Federación como café, o espaço é uma graça, colorido, cheio de lambes no corredor, tem brunch, as vezes promovem uns eventos bacanudos com mesas na rua, música e vermut que vale a pena acompanhar e além de tudo isso é também uma padaria.
No balcão junto com os doces do café, a gente pode escolher os pães para levar para casa, se definem como padaria urbana.
La Focacceria de Barrio Sur (Convención 1105 esq Durazno)
Eu nunca tinha escutado nada sobre esse lugar (aberto há menos de 1 ano), o que para ser bem honesta já não é mais tão comum acontecer: amigos e família sabem do meu trabalho aqui no Viver Uruguay e sempre lembram com muito carinho de recomendar um lugar novo que foram e gostaram, além de acompanhar jornais e revistas, tem as redes sociais com muita gente que faz e acontece na cidade hehe, então quase sempre que inaugura alguma coisa eu já vi/ouvi/tenho uma referência mesmo sem nunca ter ido.
Amo quando acontece de desbravar a cidade casualmente e cruzar com algo novo, ser surpreendida (gastronomicamente falando porque ainda me surpreendo bastante com belezas e percepções do viver).
Foi assim que passei e vi a fachada salpicada de azul turquesa, pequenina com um par de mesitas na calçada, toda simpática: seria possível resistir hehe?
Entramos, compramos pão para levar para casa e brilhou na mesa do café, tenho pendente voltar mais vezes e provar mais coisas, no cardápio tem ainda pizzas e doces entre cookies, tortas, alfajor e medialunas.
Para terminar, trago uma dica extra:
Essa não fica em Montevidéu, fica na vizinha El Pinar (pode ser uma parada para quem vai para o leste ou uma ótima opção de bate e volta quando sair da cidade grande é um desejo e não temos muito tempo, são apenas 40min do centro da capital e um ritmo bem mais tranquilo de balneário, no nosso Guia de Montevidéu tem mais sugestões do que ver e fazer por lá).
A padaria (pana como eles costumam chamar, de panaderia que é o nome em espanhol) só abre sexta e sábado, sempre tem fila, a partir das 9h até a hora que acaba tudo.
Empreendimento que nasceu na pandemia, na garagem da família que já trabalhava no meio gastronômico (experiência em restaurantes e pizzaria, com pão de fermentação natural foi um caminho novo e como vemos hoje apaixonante e exitoso).
As iniciais de pão e companhia quando lemos rápido soa pânico, definia bem os dias que vivemos. É um espaço colaborativo - tem toque dos amigos e outros produtos - e com buena onda.
E aí, quem quer pão? As padocas maravilhosas para começar o dia bem <3
Abraço e boa aventurança! :)
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