Fim de semana em Montevidéu

Fiquei na dúvida se trazia o título desse texto como um fim de semana ou rotas gulosas em Montevidéu, gosto mais do segundo que surgiu acompanhando a viagem de um cozinheiro argentino pela capital uruguaia.


Modo nostalgia total. Quando mudei para o Uruguai via muita tv tentando aprender as nuances do idioma - hoje nem temos mais tv em casa! - e não perdia o programa Cafe San Juan, o formato era incrível, sem a rigidez dos programas culinários da época, o Lele mostrava os bastidores do seu bistrô: desde o processo criativo do menu às compras, receitas e serviço. 


Já tinha anos que não via nada dele e de repente rolando o instagram apareceu como sugerido, foi como voltar no tempo. Terminei de assistir com um sorrisinho orgulhoso: o rolê foodie dava um match quase integral com as escolhas do nosso guia


Escrevi e imediatamente veio o ranço do vício linguístico das expressões em inglês. Eu me permito a troca com o espanhol, latinos que somos, de onde escrevo e tudo mais, mas o inglês além de achar brega esse excesso que andamos recorrendo, ainda falo mal pra caramba a língua, não tem sentido nem defesa haha. 


A primeira coisa que veio à cabeça para substituir foi rotas gulosas. E na moral - sinta agora o baianês - quem precisa de foodie quando se tem guloso no dicionário? <3


Só batizei o texto com o fim de semana porque não só comemos nessas escapadas para a capital, tem sempre ali no pacote um museu, livraria, parque, feira, pracinha com as crianças. A gente quer comida, diversão e arte.


Rota gastronomica em Montevideu
Sobremesa no Savarin

Ou la vida mismo desenrolando, o ritmo e o que faziamos quando moravamos em Montevidéu e escapavamos da rotina rumo ao leste que agora é casa, olha as voltas, se até minha vida é um vai e vem, não me peça mais objetividade num texto sem limite de caracteres hehe.


Como já conhecemos bem a cidade - o omi é uruguaio, né - raramente temos pressa ou programação prévia, mas tenho dois truques que funcionam: o guia em mãos - serião! - que me ajuda a recalcular rotas no improviso. 


Abro o mapa e tenho ali um leque de opções maravilhosas. O conteúdo tenho gravado na cabeça, eu consigo recitar até dormindo os textos que fiz para o guia hehe, mas os horários das atrações, por exemplo, não sei de cor e é muito útil, especialmente nos domingos quando muita coisa fecha ou tem horário reduzido.


Outra coisa que permite o roteiro com esse toque deixa a vida me levar (no caso sem reservas para o almoço no fim de semana) é chegar cedo,  por volta das 12h30, sempre antes das 13h. 


E bom humor, se não der certo tá tudo bem também, tentamos outro lugar (e o guia entra em cena de novo, uma curadoria impecável de lugares - as vezes vizinhos - para tentar a sorte gulosa, aconteceu nessa escapada de tentar mesa no Pantagruel, não conseguir, mas saber que na quadra seguinte estava o Savarin, onde fomos igualmente felizes como já vou mostrar).


Chegamos num sábado a tarde e a primeira parada foi no Estudio Café, um novato que tem dado o que falar. De desenho minimalista e mobiliário predominantemente branco, o espaço tem um terraço gostoso de cara para a bela faculdade de arquitetura e a quase sempre ruidosa Blv Artigas.


Mas, o bulício habitual da rua subitamente fica em segundo plano, o café é um oásis no concreto. Atendimento simpático, café especial e bem feito, um menu enxuto e saboroso. A medialuna (180 uyu) um êxito: de tamanho generoso e bem docinha. 


Cafe especial em Montevideu
La ventanita (a janela onde entregam o café)
Melhores Cafes em Montevideu
Cafe charmoso em Montevideu


Pedimos também brownie (210 uyu), expresso (100 uyu), cortado (130 uyu). Mantem bons preços para ser um dos mais queridos do momento.


Quando a noite caiu, aproveitamos que a vovó também estava em Montevidéu para sairmos sem as crianças: fomos de tapas, vermut e cinema.


O conceito tapas - porções reduzidas/para compartilhar - ganhou várias cozinhas, é uma proposta que me encanta para a noite - quando como menos, no almoço costumo ter um apetite de leão - e temos opções bem interessantes e criativas na cidade.


O escolhido da vez foi o Vereda que é uma graça, localizado numa esquina do bairro Pocitos, o restaurante bar oferece uma carta saborosa e um equilíbrio no quesito reduzido e preço. Nesse formato, o recomendado são 3 tapas por pessoa ou 2 mais uma sobremesa para sair satisfeito. 


Daí não queria entrar em polêmica, mas não me aguento. Tem lugar pesando a mão nessa relação, não dá pra uma tapa custar 500 pesos pra cima, gente. Não dá. 


Gastar mais de 1400 pesos no conjunto dos 3 pratinhos acho absurdo, é o que custa um prato generoso - não só em quantidade como matéria prima, técnica - num bom restaurante. E eu entendo que há propostas com uma cozinha bem consolidada, gourmet, etc. Ainda assim, não dá, tá? Menos quando a base é um ingrediente econômico e o processo com pouca complexidade para um profissional. Sim, um puxão de orelha nas tortillas inflacionadas e afins hehe.  


No Vereda nenhuma tapa custa mais de 360. Pedimos as croquetas de vacío al tannat (croquete de carne ao vinho tinto tannat - 360 uyu), a tortilla parmesano (260 uyu) e o matambrito (um corte suíno com purê de milho e gel de cítricos - 360 uyu).


Noite em Montevideu
Noite em Montevideu


A porção é coerente (porque o reduzido não precisa - nem deve - ser minúsculo, obrigada). Mesas na calçada fazendo jus ao nome (vereda em espanhol é calçada), uma equipe atenciosa, boa música, buena onda e o vermut rosso artesanal da casa (170 uyu) que brilhou muito.


A dica de cinema vou deixar a Cinemateca e o Cultural Alfabeta que são espaços lindos de viver: cine de rua, alternativo e aconchegante. Acabamos indo no cine do Montevideo Shopping porque era onde estava passando Guerra Civil, eu queria prestigiar meu conterrâneo Wagner Moura amado. Talvez tenha me arrependido hehe. 


No dia seguinte fizemos o check-out no Merit Hotel (que leva o título de melhor custo x benefício de hospedagem pra nossa família - e sim, pagamos tudo, nada aqui é parceria, são dicas honestas e experimentadas) e fomos passear no Parque Rodó. 


Cês já sabem que a pracinha Enriqueta Comte é a preferida das crianças e tem o Museo de Artes Visuales como vizinho e toda área do parque para caminhar. 


Aos domingos acontece ainda uma feirinha que é o puro suco do cotidiano montevideano. E também uma boa opção para quem não quer encarar o vuco da tradicional feira da Tristán Narvaja. 


Roteiro fim de semana em Montevideu
Roteiro fim de semana em Montevideu


A feirinha do Parque Rodó costuma ser tranquila, é mais reduzida e organizada, as barracas se concentram na lateral da biblioteca em forma de castelo. 


Do outro lado da rua, já grudado na pracinha das crianças, fica a parte com frutas e verduras, barracas com produtores ecológicos e onde a vida de bairro acontece. Recomendo ir pela manhã, termina por volta das 15h.


No almoço fomos felizes no Savarin, como comentei anteriormente. Uma cozinha primorosa, bem executada e bonita. Feita por gente com experiência e atenta aos detalhes. Um lugar sóbrio e sereno. 


Nos sentamos na parte da frente que tem vista para a rua e cozinha, pedimos três pratos: a massa do dia com sabores bem outonais (abóbora e cogumelos), nhoque recheado de carne braseada com creme de cenoura e queijo pecorino (perfeito, arrancou elogios até da criança! 620 uyu), bife angosto de cordeiro com boniato - batata doce laranja (730 uyu) - que estava impecável. 


De entrada dividimos o tiradito de hongos (370 uyu) e a sobremesa já tinha escolhido quando vi no quadro que anunciava as delícias do dia na calçada (inclusive, quase ao lado do Vereda, algumas casas separam os dois): torta vasca - que vai ser sempre minha opção, difícil competir - com marmelo confitado e nos surpreendeu bastante o sorvete de pistache artesanal (elaborado por eles e melhor que muita sorveteria famosa). 


Dica onde comer em Montevideu
Dica restaurantes em Montevideu
Dica onde comer em Montevideu

Cobram 85 uyu de cubierto (o serviço de mesa que não se confunde com a propina - gorjeta - e não é opcional, é muito comum no Uruguai, embora nem todo restaurante cobre, se for prática do local sempre vai estar no menu e o valor normalmente oscila entre 80 e 200 uyu por pessoa).


Do almoço passeamos um pouco pela rambla e terminamos o dia encontrando a família e amigos no Plaza Cafe, um casarão bonito e colorido no Parque Rodó, tem vários ambientes, uma pequena livraria e mesas para grupos grandes. 


O público ama o café na casquinha, vi sair muitos, metade da nossa mesa foi nele, achei curioso hehe e acabei pedindo meu clássico cortado. O café que trabalham é de Honduras. Gostei bastante do croissant e dos alfajores, tanto o de chocolate branco como o tradicional. 


Dica cafes em Montevideu
Melhores cafes em Montevideu
Cafe especial em Montevideu

E foi assim de panza llena y corazón contento que pegamos a estrada de volta para a casa. 


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Quem viaja com o guia, viaja diferente, viaja melhor <3


Abraço e até a próxima (fui organizar os arquivos e encontrei 5 viagens dessas gulosas, me conta se quiser ver mais por aqui).


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