Dando continuidade ao nosso roteiro em Colônia do Sacramento, trago hoje as curiosidades e bonitezas clássicas para desbravarmos de um jeitinho especial seu charmoso bairro histórico.
Para tal vou começar com um breve contexto histórico: Colônia guarda a peculiaridade de ter sido fundada pelos portugueses em 1680, é considerada a cidade mais antiga do Uruguai (como referência, somente 46 anos depois iniciou-se a fundação de Montevidéu).
A ocupação dessa região foi uma estratégia portuguesa a fim de manter os lucrativos laços comerciais na rota do escoamento da prata e contrabando de produtos manufaturados entre as colônias no Novo Mundo e Europa.
Alguns detalhes dessa linha do tempo são interessantes relembrar, não é curioso pensar numa afronta assim nas fuças do inimigo? A cidade de Buenos Aires (na época um domínio espanhol) se encontra distante apenas 50 km de Colônia pelo rio. Por que escolheram essa localidade e não outra?
Muita gente pula essa parte, mas eu sou a turista perguntadeira hehe. Cê fique a vontade para ir direto ao roteiro rolando mais abaixo.
Prévio a esse momento da ocupação, tivemos um longo período compreendido entre 1580 e 1640 regido pela União Ibérica que foi a unificação das coroas portuguesa e espanhola sob o domínio do rei Felipe II da Espanha: num golpe de sorte ou azar - dependendo de qual lado te conta - quando o Sebastião, então rei de Portugal, morreu numa batalha na África sem deixar herdeiros diretos, quem terminou abocanhando o trono foi seu tio Felipe - vulgo rei da Espanha - que faceiro passou a administrar simultaneamente os dois maiores impérios do mundo.
Os vínculos se estreitaram, rolando ali um comércio - do dicionário exploração - intenso entre Potosí, Buenos Aires e Brasil. Numa certa camaradagem - pero no mucho como veríamos mais adiante - já havia um número razoável de portugueses fazendo negócios e habitando também em Buenos Aires.
Quando finalmente Portugal recuperou sua autonomia política, desvinculando-se totalmente da Espanha, entendeu necessário fortalecer as fronteiras e retomar sua influência nas rotas comerciais, o que significava posicionar-se estrategicamente também no eixo rioplatense.
O princípe regente Pedro II aproveitou a oportunidade - no caso o desejo e apoio dos comerciantes nessa busca de expansão do território - e nomeou o governador da capitania do Rio de Janeiro, o Manuel Lobo, para fundar uma fortificação nessa região. É tudo nosso, nada deles, teriam dito (esse trecho sem fontes sérias para corroborar, perdoem). Então, em janeiro de 1680 ficou estabelecida a Colônia do Santíssimo Sacramento.
A novidade chegou aos ouvidos do governador de Buenos Aires que não gostou nada, exigiu retratação (galera, volta aí suave pro RJ - advertiu), mas os portugueses não se intimidaram e lá ficaram até que em agosto as tropas vizinhas invadiram esse esboço de cidade e saíram vitoriosas.
A recém fundada Colônia passava pela primeira vez às mãos do poder espanhol. Anos mais tarde os portugueses a recuperariam e logo voltariam a perder o domínio. E se repetia.
Esses anos de disputa pelo território ficaram marcados na estrutura arquitetônica da cidade que mistura traços de estilo português e espanhol que são facilmente identificados enquanto passeamos e fazemos infinitas selfies - até quem não gosta hehe, é irresistível, tudo parece fotogênico em Colonia.
O desenho da cidade em 1762
As construções espanholas tradicionalmente eram mais robustas, afinal eles tinham melhor estrutura para edificar com acesso ao materiais que vinham da cidade e porto de Buenos Aires, enquanto os portugueses precisavam improvisar com o que encontravam na região, suas casas eram mais rústicas, tinham menos altura, visualmente eram menos nobres.
Também encontramos diferenças no traçado das ruas, no desenho original português, por exemplo, o escoamento era pelo centro da via, já no espanhol o escoamento era pela lateral.
Todas essas nuances formam um patrimônio arquitetônico e histórico belíssimo, declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco, fazendo dessa parte da cidade um grande museu a céu aberto.
Conhecendo o bairro histórico: o roteiro
Colônia não combina com roteiro rígido: a cidade nos convida a flanar. A rota do que fazer é bem intuitiva e tranquila por natureza. Há, sim, atrações para serem vistas, mas dá para perder-se e voltar a encontrar-se sem prejuízo algum.
Para quem precisa sair com as coisas mais organizadas, deixo essa sugestão de itinerário: começar o passeio na Puerta de la Ciudadela, também conhecida como Portón del Campo, o que seria a entrada da cidade colonial, uma construção levantada no ano de 1745 amparada por largas muralhas que protegiam a cidade dos invasores.
Essa porta foi restaurada e reconstruída algumas vezes, mas conserva ainda uma pequena parte da muralha original e da estrutura do fosso e da ponte elevada. O escudo que vemos no topo é uma réplica, o original está em exposição no Espacio Portugués.
Daí seguir para a Calle de los Suspiros, um dos pontos mais fotografados de Colônia. A rua originalmente era chamada de Ansina, popularmente passou a ser conhecida como a rua dos suspiros e há várias versões que explicam, a mais difundida é que nesse lugar havia muitos prostíbulos, refúgios de marinheiros e soldados em busca de diversão que passavam e suspiravam pelas mulheres.
Outras dizem que os condenados à morte eram levados até essa rua e quando a maré subia, morriam afogados, dando o último suspiro.
O trajeto continua pela Plaza Mayor, podendo incluir a visita ao Espacio Portugués e o Farol de Colônia que foi construído em meio às ruínas do Convento de San Francisco, é possível subir e deleitar-se com a vista da cidade e a imensidão do Rio de la Plata, são pouco mais de 100 degraus, num dia de boa visibilidade é possível identificar até a silhueta de Buenos Aires.
Na descida passar pelo Espacio del Azulejo e ir pela rua que acompanha o rio, a balaustrada branca da orla deixa a paisagem ainda mais charmosa.
Seguindo pela orla, logo adiante temos o Espacio Indígena, esses espaços em Colonia são todos pequeninos - a visita não costuma levar muito tempo, o que permite fazer mais paradas sem pesar tanto a fluidez do roteiro.
A entrada unificada custa 150 pesos e dá acesso ao grupo de espaços que formam o Museus de Colônia, menores de 12 anos têm entrada livre. O ticket é vendido no Espacio B. Rebuffo (quem tiver interesse em visitar algum desses espaços, precisa passar lá antes para retirar a entrada).
Nesse ponto do trajeto você pode subir em direção à Basílica del Santísimo Sacramento - a primeira igreja construída no Uruguai - e a vizinha Plaza de Armas, onde estão as ruínas da casa do governador.
Logo, descer para a região do Muelle Viejo - um dos lugares mais bonitos para assistir o por do sol - e visitar o Espacio Español e o Centro Cultural Bastión del Carmen.
A caminhada fica ainda mais gostosa se intercalamos boas opções de restaurantes e cafés, na seção ‘comes e bebes’ vou trazer dicas que vão te ajudar a evitar ciladas gastronômicas.
Pernoite ou bate e volta:
Visitar o centrinho só por um dia dá super certo, ficar por lá mais tempo também.
Tudo vai depender do desejo e necessidade do viajante. Meu papel aqui é abrir o leque das propostas na região e cada um escolher o que fizer mais sentido.
Pessoalmente, eu prefiro dormir na cidade. Não acho que exista excessos com Colônia, já perdi as contas de quantas vezes fui e ainda espero poder voltar muito mais.
Gosto do ritmo pausado, dos arrebatamentos de beleza, de andar nas ruas vazias nos instantes prévios à chegada das excursões e barcos, gosto de assistir o pôr do sol na beira do rio, de ver os farolitos iluminando as esquinas quando a noite cai.
Mas, não querendo ou não podendo, um bate e volta pode ser muito inspirador e divertido também.
Para quem não vai alugar carro na viagem e busca equilibrar um pouco os gastos dos passeios, é fácil fazer o bate e volta em Colônia saindo de ônibus desde Montevidéu (e eu trabalho vendendo excursões, gente! Tô aqui fazendo esse marketing errado, porém sendo honesta, risos! O tour obviamente tem outro nível de conforto e segurança, mas é possível ir assim por conta sem grandes complicações).
Confira as opções de horário no site da rodoviária Tres Cruces e escolha o que melhor se encaixa na sua programação. Leve em conta que a viagem dura em torno de 3h, são 180km desde a capital.
Reserve as passagens e chegue com tempo para localizar a plataforma sem correria, os ônibus costumam partir com muita pontualidade.
Da rodoviária de Colônia você consegue ir andando numa boa até o centrinho e curtir seus encantos.
E se entender que uma excursão funcionaria melhor para você, entre em contato direto comigo no WhatsApp que te ajudo a encontrar o passeio ideal.
Trabalho com agências confiáveis e habilitadas (ou seja, cadastradas legalmente e com veículos novos e guias brasileiros ou uruguaios fluentes em português), temos um amplo catálogo de passeios coletivos e privados em todo Uruguai. Consulte aqui.
Volto logo com a parte 2 (um roteiro alternativo / lado B em Colônia do Sacramento) e 3 (a rota dos queijos, uma pequena homenagem às queijarias locais) + o comes e bebes (dicas de onde comer e beber em Colônia do Sacramento).
Tá ficando bonito esse material, hein? <3
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