O ano que começou

Fevereiro quase acabando e eu finalmente consegui dar as caras aqui. Fazer login e escrever. O que? Dicas do Uruguai, ué. Parte da cabeça vai para o óbvio, outra para a conversa íntima de cada início de ano ou períodos de pausa. Como tá aí do outro lado? Puxa a cadeira, vem conversar.



Ano novo chegou com gosto de esperança coletiva, verão, minha galera festiva só querendo fazer a Piovani e postar foto bonita de bikini, obrigada. Não deu, mas continuamos.

E veio o carnaval (um adendo para a beleza disso, dois anos sem alegria nas ruas, me emocionei vendo à distancia a Baiana System arrastando multidões em Salvador, uma carne que já foi mais de carnaval e hoje não aguenta tanto ficar em pé, vibrou) e direto do sofá - com as crias todas ranhentas - abro os trabalhos do blog com um texto que não poderia deixar de ser uma especie de retrospectiva. 

A vantagem de aparecer meses depois da avalanche de reflexões do ano que passou e que ninguém conseguia mais ler uma linha é que talvez agora alguém consiga, ou não e tá tudo bem hehe.

Começamos 2022 no avião, viramos o ano no céu do Brasil (e para meu espanto não teve uma mini menção dessa passagem simbólica, 450 avisos durante o voo SP-Salvador haha, mas nenhum feliz ano novo fortuito que fosse, o jeito foi celebrar bajito, timidamente na nossa fileira) e aterrissamos na madrugada do dia primeiro de janeiro na Bahia amada. 

Voltamos para casa - onde a burocracia aponta que temos residência fixa, se você caiu aqui agora ou nunca soube é na sra. Barcelona - em março pós temporada no Brasil e Uruguai que teve todo mundo de covid, a neném inclusive. 

Susto, planos alterados, improviso, mudanças de passagens, treta infinita com a Latam. Prejuízo com mais números do que gosto de lembrar. Um adeus torto sem previsão de retorno, mas o improvável aconteceu e de alguma maneira conseguimos voltar para fechar o ano no calorzinho do sul do mundo.

Um presente estar duas temporadas longas no mesmo ano (e escrevendo daqui do futuro diria que impagável ter pulado quase todo inverno no hemisfério norte, viver dois verões no ano passou a ser meta para a vida jubilada sexagenária, por enquanto precisamos equilibrar as querências da vida que já foi mais livre e nômade com o calendário escolar da quiança maior). 

Poder ter levado a pitica em fases tão diferentes nos marcou para sempre, o primeiro ano de uma criança é incomparável. Pudemos fazer a IA com participação das avos e frutas colhidas no quintal, safra de manga e goiaba orgânicas foi puro luxo hehe. 

Meses depois ela chegou caminhando, reconhecendo rostos e balbuciando suas primeiras palavras. A família cresceu, tivemos novos encontros, o posto de la más peque passou para outro neném, a vida sendo bonita e generosa.

Ter filhos e viver longe de onde crescemos é um desafio constante, é desejo nosso proporcionar essas memórias e pertencimento. Laços. Língua de herança. Poucas coisas me emocionam mais do que escutar oxe/che - as vezes juntos na mesma frase - no vocabulário da minha menina ou vê-la tão a vontade com nossa gentehistória.

Do outro lado do mundo passamos a primavera, tivemos rotina, trabalho, miudezas mil, então o verão e viagens sonhadas, sequência de aniversários da casa: julho, setembro, outubro (que começa em março com essa pisciana que vos escreve). Las niñas canceriana e virginiana, o maridón libriano, a delícia e o caos do nosso quarteto segundo o zodíaco, eu amo hehe. 

Vivi mais um ano sendo alimento e acalento para nossa filhote de gente, poético e exaustivo talvez na mesma medida. 

Quando finalmente chegou novembro e dezembro trazendo tempo de mais aconchego na cadência rioplatense. Não teve Brasil nesse repeteco, mas minha mãe foi nos encontrar em Montevidéu. Foi um ano com 90 e poucos dias entre os nossos.

Nessa segunda temporada uruguasha demos novos passos em sonhos antigos. Ahora mismo vendo futuro onde tudo ainda é mato. Um lugar físico que tentavamos há anos - meu deus que loucura, acostumando ainda - para chamar de lar na terrinha, além desse espaço subjetivo no corazón. Raízes. Profundas.  

As férias passaram num piscar e voltamos para Barcelona onde passamos o Natal já no friozinho cuidando da primeira leva de viroses do inverno que insistem em aparecer até hoje e tem deixado os dias por aqui mais densos. Focando no tempo de flores que  está cada vez mais perto. Faltam duas semanas para meu cumpleaños 3.7 (talvez esteja visualizando as primeiras questões do etarismo). 

2023 começou sem metas. Inédito. Cansada demais para inventar a roda e falsas promessas. Não sei que curso vou fazer - e numa era de cursos, a gente vai no banheiro fazer xixi e desvia de 50 ofertas - não tenho metricas para superar e estou em paz com isso. Quero só manter o que tá funcionando, o que foi importante e me fez bem, isso também é muito.

Uma jornada de autoconhecimento que renderia um curso fajuto. Pareço buena gente, mas tenho um ranço gigantesco de guru digital. Poderia melhorar isso, mas não tô querendo.  

Coerência ou verdade não faz dinheiro. Ilusão e ostentação, sim. Quem quer ver realidade nesse tempo de ócio rolando vidas? Possivelmente seja apenas recalque enquanto penso como trazer pra jogo minha vida numa narrativa que dê dinheiro, ou seja, bem distorcida do que é haha.

Poderia pinterestear a casa, dar uns close bonito like a boss, mostrar as viagens e os dias sem os perrengues, a maternidade sempre equilibrada montessoriana, muito unboxing (compra, compra, compra) e filtro nas fuça antes da primeira harmonizada para entrar no clima. Deboche, mas quem sabe. 

Eu já trabalhei escrevendo e-books sobre como investir no mercado financeiro. Espero ter deixado alguém rico (eu fazia traduções e logo passei a criar também juntando conceitos, puro suco do poder da narrativa, ou seja, a dica da tia é que cês se orientem que o grosso do que a gente vê é performance).

Pegando o caminho das dicas do Uruguai devo dizer que outro ano entregando menos do que queria - em mais âmbitos do que gostaria de contar. Seguindo inconstante mesmo e apasionada. Escrever ainda me move, faz sentir e sentido. Desejo compartilhar muito dessas duas temporadas no paisito.


O ano que virei reelzeira e publiquei uns vídeos com muita boa intenção haha (e pouca estabilidade/habilidade e tempo para ser videomaker, mas muito conteúdo gostosinho que é meu compromisso aqui: trazer experiências bonitas e vividas, autênticas, honestas, fluídas).

E lancei a versão mais completa do nosso Guia de Montevidéu que me encheu de alegria, as melhores dicas da cidade (muito além de onde comer, embora tenha a melhor seleção gastronômica da capital também, tudo ali sem coleguismo-jabá), uma curadoria linda de viver. 


Encerro esse texto todo aleatório (minha cabeça é nesse fluxo, eu só aparento normalidade haha) agradecendo a companhia e buena onda. Amo nossa comunidade, nossa troca. 

Feliz ano, gente querida! Atrasada, sim. Sincera e com carinho também  <3

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