Parque de Esculturas: Fundación Atchugarry

O  Parque de Esculturas da Fundação Pablo Atchugarry é uma bela surpresa no roteiro do leste.

Um espaço incrível onde a arte e a natureza andam juntas, não entendo como até hoje - mais de 10 anos de inaugurado - o passeio não goza de tanta popularidade entre os turistas brasileiros.

A entrada é gratuita, o lugar é lindo de viver, tem trabalhos primorosos, obras ao ar livre, verdadeiramente o tipo de projeto que merece ser visto e incentivado.

O Pablo é um artista uruguaio, dessas figuras geniais e raras, tem uma história de vida toda dedicada a arte, desde muito cedo ele já pintava com o pai, depois se encontrou com as esculturas em mármore, mudou-se para a Itália a fim de aprender, se consolidar, regressou ao Uruguai e hoje vive dividido entre os dois países e incontáveis exposições mundo a fora.

Eu já tinha visto algumas obras, os eventos da fundação, mas apenas nessa última visita tomei tempo para ler mais sobre a trajetória do artista, a figura humana por trás de um trabalho impecável e prestigiado, acho curioso como as vezes a gente vê essas histórias de sucesso e cai no erro de entender como um caminho natural, linear e seguro. 

Óbvio que existe talento nato, criatividade e também o privilégio de crescer num ambiente artístico e equilibrado econômico e emocionalmente, mas por trás do que a gente vê agora há muito trabalho, paixão, renúncia e dedicação para alcançar esse nível de excelência. 

Décadas de erros e acertos. Prática, resiliência. De corpo sujo de pó e mãos calejadas. E teimosia.  Porque mexer com arte é sempre uma teimosia, ainda mais nessa sociedade tecnicista e imediatista que questiona o valor do que afaga a alma.

Nessa última visita, sentamos no centro de visitantes e assistimos vídeos com entrevistas, relatos, folheamos livros.

Numa das páginas encontramos um Pablo jovem e barbudo em Carrara, Itália, lá pelos anos 80 com um enorme bloco de mármore a frente. 12 toneladas de pedra bruta. Um esboço feito ali mesmo do que seria a sua La Piedad. Ele ficou 1 ano esculpindo a peça. Um ano, gente. O resultado é impressionante, tantos contornos e expressões. O material é frio, mas emociona. 

Para quem tiver curiosidade, o livro está disponível nesse link como cortesia.

Essa é sem dúvida minha obra preferida da Fundação, é também uma das mais significativas da carreira do Atchugarry, fascinado pela obra do grande Michelangelo, ele estudou e visitou tudo o que pode já na primeira temporada que viveu na Europa, entendeu a Piedad como um elemento recorrente e quis prestar uma homenagem ao mestre das artes fazendo sua interpretação da Piedad. 

Uma obra fantástica que fica exposta numa mini capela especialmente construída para abrigá-la. Foram necessários 30 anos para esta obra cruzar o oceano e chegar ao novo mundo.

Nesse vídeo curtinho e inspirador, vemos o Pablo falando da admiração quase sagrada pelo Michelangelo, da entrega à arte, matéria-prima, ao labor:

A essa altura já espero ter te convencido a visitar a fundação, mas ainda preciso contar que o jardim de esculturas tem 25 hectares de arte e natureza entrelaçadas, obras de outros artistas locais e internacionais, mais sala de exposições e anfiteatro que tem uma programação intensa no verão.

Trata-se de uma instituição sem fins de lucro, pensada para promover todo o tipo de arte. Há eventos, oficinas e o ateliê do Pablo fica logo ali no estacionamento da entrada, se você tiver sorte pode até encontrar o artista em ação.

O acesso, repito, é gratuito e está aberto o ano inteiro (em janeiro e fevereiro funciona todos os dias das 10h às 21h, de março a dezembro é reduzido, abre de terça a sábado das 9h às 18h). Mais info no site.

O espaço está incrível assim, mas vai ficar melhor, a novidade anunciada no início desse ano foi o projeto de um super museu de arte latino americana que será construído no terreno da fundação. 

Um prédio moderno, enorme e ousado desenhado nada mais nada menos pelo renomadíssimo arquiteto uruguaio Carlos Ott.

Mais um museu de arte nos arredores de Punta, não vamos esquecer do maravilhoso Museu Rallí que também oferece entrada gratuita, acervo de artistas latinos e do mundo, em breve publicarei um post especial sobre essa proposta.

E tem gente que ainda pensa que Punta é so verão e balada ostentação, é mole? Visitem essas belezuras e divirtam-se! :)

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