Montevidéu com chuva: o que fazer

Semana passada estava trocando figurinhas com uma seguidora que tinha viagem marcada e a previsão indicava chuva para vários dias, eu não sei se é excesso de otimismo ou ignorância minha, mas costumo desacreditar em dias seguidos de chuva hehe. 


Esse outono 2025 está sendo bem generoso entregando dias lindíssimos de sol e temperaturas agradáveis. Comentei na resposta que o sol era insistente no Uruguai e sempre dava um jeito de aparecer, quando não conseguia, a máxima popular ensinava que ´siempre que llovió, paró´. Eu amo esse ditado, traz um afago de esperança: não há tempo ruim que dure para sempre.


E convenhamos, há chuvas e chuvas. A garoa irritante que perdura todo o dia, a chuva intensa que dura um par de horas, aquela outra breve que vem forte como um choro reprimido e serve para limpar e deixar fluir, todas essas a gente dá um jeito. E, finalmente, as atípicas ou torrenciais que trazem o caos e dessas pouco se pode escapar. 


Anteontem choveu e fiquei com a ideia de escrever sobre dicas de passeios caso seus dias em Montevidéu venham acompanhados de chuva (antes que pudesse agir e publicar, o sol já tinha dado as caras de novo, ainda que timidamente, enquanto escrevo agora).


Trago uma lista de sugestões não muito diferentes do que recomendaria num dia de céu azul (museus, livrarias, cafés e tal), o truque da chuva é adaptar e/ou otimizar os trajetos - focar numa região e/ou trocar a caminhada pelo uber - evitando as pausas e atrações ao ar livre (como o banco da praça, as feiras de rua e parques) e buscando abrigos charmosos, refúgios com graça e borogodó



Para otimizar por região a maior dica que posso dar é acessar o nosso Guia Digital de Montevidéu: acabou de sair a versão nova, totalmente atualizada com as novidades da cidade, tem tudo organizadinho por bairros, mapa interativo no Google Maps com tudo sinalizado para visualizar - e calcular - facilmente as distâncias e possibilidades ao redor. 


É um investimento de menos de 100 reais (e perceba que você já gastou pelo menos uns dois mil nessa viagem, não faça economia errada hehe) que vai acrescentar camadas de beleza e praticidade nos seus dias na capital uruguaia. Não vacile e viaje com o seu <3


Dito isso, pensei em alguns lugares que eu gostaria de passar num dia de chuva em Montevidéu.


Porque outro ditado que aprendi aqui diz: ´al mal tiempo, buena cara´, se o danado do tempo não colabora, bota um sorriso na cara e encara. 


Começaria o dia com um café gostoso numa livraria aconchegante. E quando o tópico é livraria + café todos os caminhos levam à Escaramuza. Um casarão antigo belíssimo com claraboia, ladrilho hidráulico, estantes de livros que vão quase do chão ao teto, pátio verde. 


Sempre encontro os livros que estou procurando, é bem completo o acervo. A cozinha tem muitas delícias também. Abre de segunda a sábado a partir das 9h.



O dia no Uruguai começa mesmo mais tarde, se quiser algo um pouco mais cedo, ali por volta das 8h - antes disso é mais difícil hehe - a recomendação seria o fantástico Café La Farmácia, definitivamente o tipo de lugar que eu seria feliz num dia cinza e chuvoso. 


É o café mais bonito da cidade (para quem aprecia a beleza de outro tempo, o prédio data de 1890 e apresenta uma arquitetura eclética neogótica com pinceladas de art nouveau, não é necessário entender dos estilos para se sentir tocado pelas formas, detalhes, personalidade). 


Uma esquina na Ciudad Vieja onde funcionava uma farmácia, integra o patrimônio e se manteve o mais próximo do original. O letreiro antigo ainda confunde os transeuntes, tem gente distraída que passa e não vê que é um café hehe.



De panzita llena y corazón contento, você pode flanar - se o tempo permitir - pela Ciudad Vieja ou diretamente buscar abrigo em livrarias ou museus, não faltam opções nessa parte. 


A essa altura - imagino por volta das 10h30 - já devem estar todos abertos: a livraria Linardi y Risso (a 240m ou somente 4min de caminhada desde o café La Farmacia) e o Museu Andes (distante apenas 100m da livraria ou 1 minuto andando) que conta a surpreendente história do acidente aéreo na Cordilheira dos Andes em 1972.


Depois do sucesso recente da Sociedade da Neve na Netflix, talvez seja um excesso dizer - mas ainda digo por las dudas - que o avião partiu de Montevidéu, todos os passageiros eram uruguaios e essa tragédia/milagre tocou profundamente o país. O pequeno museu é um dos espaços mais emocionantes para visitar na Ciudad Vieja. 


Conto mais sobre o museu nesse texto e a livraria Linardi já apareceu também em outra sugestão de roteiro inspirada no escritor Galeano (era uma das livrarias preferidas dele, frequentava desde os anos 60), post de 2014 e 2018, lembrando que nem tudo é hype, tem coisa consistente que não perde sentido e o baú do blog tem muito desses tesouros guardados. 


E deixo outras opções: a bela livraria Más Puro Verso, a FCU (essa abre até mais cedo - a partir das 9h, as outras as 10h e 10h30 - e fica na mesma rua do Café La Farmácia, 110m ou 2min, aqui enfatizando as distâncias para avaliarem se correm na chuva hehe), a Moebius e El Lugar que são também sebos e dá para garimpar preciosidades.


Para museus: o Torres García é sempre uma linda opção e já saindo da Ciudad Vieja, pero no mucho, logo ali depois da Plaza Independencia, gosto muito do CDF, um centro de fotografia que tem exposições interessantes e ótimo material para pesquisa, se der sorte encontrará o terraço do prédio aberto que oferece uma vista pra lá de especial da Av. 18 de Julio e do Palacio Salvo. 



Já na hora do almoço se fosse uma turista num dia de chuva em Montevidéu, muito provavelmente desejaria uma parrilla clássica: perto do aconchego del fuego e do que eles sabem fazer com maestria. Se esse dia de chuva fosse durante a semana, a escolha seria a parrilla La Otra, caindo no final de semana a Once Catorce seria o destino.


E se além da chuva estivesse frio - afinal pode chover também no verão e primavera, né? Lanço o texto no mundo na cara do inverno, mas vai saber quando vai chegar pra você - buscaria o conforto numa comida de olla, como dizem por aqui os pratos mais contundentes e de caldo, como ensopados e guisados.


O uruguaio médio tem o costume de comer esses pratos só na época de frio e eu aproveito a temporada porque amo os guisos e cazuelas, é o tempo que aparecem as leguminosas (em maioria lentilha e feijão branco) nos cardápios. No ano passado foi no Pantagruel onde comi o guiso de lenteja mais saboroso e ficou a expectativa alta para repetir esse ano hehe (quem quiser provar, fique atento para ter dinheiro na mão porque lá não trabalham com cartão).



Outro programa que me chama fácil num dia chuvoso é dar uma volta no MAM, um mercadão histórico e raiz (bem diferente da dinâmica dos espaços gastronômicos mais gourmetizados que pululam em muitos bairros, como o Mercado Ferrando que começou essa tendência e ainda hoje é meu preferido nesse nicho, funcionaria bem também num dia de clima difícil, mas fico com o MAM pela oportunidade de ver a vida acontecendo de uma forma mais autêntica), completamente coberto e climatizado.


Encontramos muitos postos de frutas e verduras, os preços são competitivos com as feiras de rua e as pessoas vão mesmo fazer a feira e também se divertir, é um espaço de encontros, frequentemente há shows e eventos, a programação musical é gratuita - de tango e murga a samba e cumbia - que atrai um público diverso e animado (é para quem gosta de vida real).


Para quem quer ficar de bacana curtindo a vista para o rio e a cidade que se movimenta mais lentamente na chuva: a recomendação é o Cauce, restaurante do Hotel Costanero que fica na orla de Pocitos, quase em frente ao famoso letreiro com o nome da cidade, é ideal para um drink no fim de tarde ou uma merenda.


No Uruguai o chá da tarde (o chá das 5) é relativamente comum, os cafés e confeitarias mais clássicas tem sempre um menu especial de té para dos ou té completo (chá para duas pessoas ou completo) que é uma seleção variada de lanchinhos - costuma trazer scones com geléia, bolo, medialunas e/ou sanduíches - mais suco de laranja e chá.


Com a noite chegando, ficaria entre uma degustação de vinhos no City Winery, uma noite mágica e intimista de tango no Primuseum (eu adoro, não é barato, custa em torno de 85 dólares o show e jantar de 5 passos com bebidas, mas acho que super vale a pena o investimento) ou assistir um espetáculo no Teatro Solís ou Auditorio del Sodre, dois espaços icônicos da cultura uruguaia, fechando o dia com chave de ouro.


Espero que as dicas ajudem a curtir Montevideu mesmo com chuva, estava com saudade de escrever no bloguito e gosto quando o conteúdo traz um monte de dicas assim <3

Se curtirem essas - ou outras - dicas que recomendamos, vou gostar de saber, me conta nos comentários ou no Instagram se preferir. 

Também me ajuda bastante comentar nos lugares - quando aparece a oportunidade de conversar - que foi dica do Viver Uruguay, valoriza esse trabalho que faço com tanto carinho e há tantos anos de apresentar o melhor do Uruguai para vocês.


Abraço e até a próxima! :)


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